*escrito por Felipe Augusto para o BLOG
A probabilidade de um país superar o subdesenvolvimento é muito baixa. Novo artigo de @IsabellaMWeber e outros mostra que a estrutura produtiva que um país tinha há mais de 100 anos praticamente determina sua posição atual na hierarquia global. Os autores criaram uma base inédita de comércio internacional para a era da globalização do séc. XIX, discriminando os dados o máximo possível para identificar os bens específicos que cada país exportava. Assim, puderam apurar a complexidade das estruturas produtivas de cada país. A intuição é que, se um país consegue produzir competitivamente muitos produtos que poucos outros países conseguem produzir, pode-se dizer que aquele país desenvolveu uma estrutura produtiva complexa (o conhecimento produtivo é amplo e está enraizado e disseminado na sociedade). A literatura da Complexidade mostra que bens industrializados tendem a ser complexos. Bens agrícolas e minerais tendem a ser simples. Aparelhos médicos são produzidos por poucos países diversificados. Soja é produzida por muitos países não diversificados. Só o primeiro é complexo. Os autores mostram que países competitivos em bens complexos entre 1897 e 1906 continuam competitivos em bens complexos 100 anos depois. Mais preocupante, países competitivos em bens simples continuam competitivos em bens simples, sem conseguir superar a especialização.
Isso ocorre porque, quanto mais conhecimento produtivo um país possui, mais consegue adquirir, por razões como transbordamentos científicos e tecnológicos, economias de escala e de escopo e learning by doing. O problema? A complexidade está muito ligada à renda per capita (rpc). Os autores mostram que 56% da variação da rpc atual pode ser explicada pela complexidade econômica de 100 anos atrás! Recursos naturais, capital humano, investimentos estrangeiros, abertura comercial e instituições, mesmo considerados em conjunto, explicariam muito menos. Os autores mostram também que a geografia e as instituições que países tinham no século XIX não impactam a estrutura produtiva que possuem atualmente, com uma exceção: países que foram colônias europeias reduziram seus conhecimentos produtivos mais do que outros países. É praticamente impossível superar a hierarquia global. Japão e Coreia do Sul, que se destacaram por suas políticas industriais, foram os mais bem-sucedidos, apresentando os maiores acúmulos de complexidade nos últimos 100 anos. Países que descobriram petróleo apresentaram declínio no longo prazo. Democratização gerou resultados positivos apenas para os pioneiros do século XIX. Adesão à OMC e a Programas de ajuste do Banco Mundial e do FMI, sinônimos de liberalização econômica, não tiveram efeitos. No longo prazo, o desempenho do Brasil foi razoável, tendo atingido posição média-alta . Como mostro neste artigo, contudo, nossa estrutura produtiva vem se simplificando nas últimas décadas. As evidências mostram que deveríamos estar muito preocupados.
referências:
What drives specialisation_ A century of _ Rebuild Macro
O presidente do IPEA – Carlos Von Doellinger – falou recentemente que defende o Brasil focar em suas vantagens comparativas (agronegócio e mineração), e deixar de apoiar o setor industrial. Achei isto sem sentido e falta de visão de futuro.
Exatamente o pensamento de boa parte de nossos dirigentes historicamente, com exceção de alguns períodos pontuais. Só faltou ele explicar por que não estamos nadando em dinheiro depois de 200 anos focando em agricultura e extração mineral.
Vamos mudar isso!
Excelente texto!