O Brasil pode fazer política industrial? (Antes que seja tarde)

*escrito por Felipe Augusto

Tomemos os casos mais impressionantes de desenvolvimento recente, como Taiwan, Coreia do Sul e China: nenhum se tornou rico antes de implementar políticas industirais. Coreia e Taiwan implementaram políticas desse tipo quando seus países eram extremamente pobres. Entre as mais transformadoras, a HCI (1973) e a de P&D em eletrônicos do ITRI (1974) ocorreram quando os países tinham menos de 40% da renda per capita atual do Brasil. E, como mostra Naughton, a intensificação das políticas de desenvolvimento produtivo na China (as mesmas que agora preocupam o Ocidente e ameaçam sua hegemonia) ocorreu a partir de 2005, quando o país tinha menos de 1/2 da renda per capita do Brasil. Já ficamos para trás. utilizamos intensamente essas políticas no período mais bem-sucedido de catching-up (1930-1980). E a corrupção? A Coreia é notável pela corrupção envolvendo grandes empresas e Estado: dos 7 últimos presidentes, 5 foram condenados por corrupção, mas o debate não foi interditado por lá. A corrupção era também disseminada na era de ouro dos EUA, e o país não se livrou de ineficiências. Aliás, por que corrupção/incapacidade não preocupam quando são feitas políticas liberais como privatizações? 

E a educação? Todos os casos bem-sucedidos recentes fizeram as duas coisas ao mesmo tempo, e nenhum deles tinha índices educacionais excepcionais quando decolaram. Empresas são escolas que geram/catalisam o aprendizado. Sem empresas fortes, há fuga de cérebros. Sobre protecionismo: EUA na sua era de ouro (1870~1914) manteve algumas das mais altas tarifas do mundo, especialmente se comparadas com as dos principais concorrentes. Hoje os EUA retomaram parte dessas políticas. Não se trata dos EUA estarem fazendo uma escolha errada. Isso é mais velho que andar pra frente. Sempre que um país desafia a potência hegemônica, o liberalismo perde relevância. Sobra apenas a liderança estatal na mobilização de recursos para avançar a fronteira tecnológica. Nenhum analista sério acredita que políticas de desenvolvimento produtivo (incluindo substituição de importações) continuaram predominantes após as décadas de 80/90 no Brasil. São 4 décadas de ampla dominação da agenda liberal. Mesmo assim, apesar das limitações, esse período coincide com o maior período em que reduzimos a distância pro mundo desenvolvido. No mundo desenvolvido, a ascensão chinesa e de suas políticas de desenvolvimento fizeram a ingenuidade liberal acabar. Precisamos virar logo essa página antes que seja tarde demais para o Brasil.

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