O Brasil também pode voltar a se desenvolver se quiser! Instituições e desenvolvimento coevoluem

*escrito por Felipe Augusto

Nenhum país bem-sucedido em políticas industriais tinha instituições consideradas adequadas antes de implementá-las. A Coreia do Sul, cujo sucesso nas políticas industriais é atribuído à sua alegada capacidade estatal, estava devastada nos anos que antecederam sua decolagem econômica. A Guerra da Coreia havia destruído 80% da infraestrutura industrial, social e econômica. Mais do que isso, o General Park Chung Hee herdou em 1961 uma burocracia desmoralizada e tecnicamente atrasada. O Governo Rhee, que o antecedeu, era reconhecido pela corrupção em larga escala, com baixa autonomia estatal diante da pressão de grupos de interesse. Portanto, quando Park começou a implementar as políticas industriais que transformariam o país a partir dos anos 60, não havia a capacidade estatal pela qual a burocracia coreana hoje é reconhecida. Ela foi construída de forma concomitante, intencionalmente e com muito esforço. O mesmo vale para a China, hoje tida como líder em políticas industriais. Poucos anos antes da decolagem, sua capacidade estatal estava seriamente comprometida. Burocratas eram perseguidos. Dados oficiais não eram coletados. Uma geração de chineses foi privada de educação formal. E o Brasil? Entre 1930 e 1980, construímos capacidade estatal para implementar políticas industriais e fomos o terceiro país que mais cresceu em renda per capita no mundo, na frente da própria Coreia. Oficiais chineses vinham para a Brasil para aprender com o nosso modelo. Perdemos capacidade estatal nas últimas décadas? Se sim, qual foi o papel de visões antiestatais? É como um ciclo vicioso. Afinal, se o Estado é incapaz e não deve fazer políticas industriais, nunca haverá vontade política de capacitá-lo para tal. O problema todo é que, se é raro se desenvolver sob a liderança de políticas industriais, muito mais raro é se desenvolver sob outro modelo de desenvolvimento. Que superemos logo a discussão sobre ter ou não ter política industrial e passemos ao que realmente importa: o “como”.

Fontes:

Howe (2014), Kim; Vogel (2013), Ang (2016), Weber (2021).

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