O Brasil tem baixo domínio produtivo de bens e serviços tecnológicos

*escrito por Luís Felipe Giesteira

Há uma forte correlação entre o grau de complexidade de produtos (medido por ECI/PCI) e o de sofisticação tecnológica dos produtos (medido por investimento em P&D ou CT&I). Isso sugere uma interface importante para as políticas industrial e de CT&I – e, assim, para nos tirar do inacabável atoleiro em que nos encontramos há 40 anos. Países que exportam bens de maior intensidade tecnológica são países com ECI elevado, geralmente maior que 1, e portanto, com maior probabilidade de crescer mais, gerar melhores empregos e ter melhor distribuição de renda que países semelhantes noutros aspectos. Apesar de ter avançado significativamente em indicadores que servem de base à inovação, como educação e produção científica (na qual o Brasil é o 12º colocado globalmente e produz algo como 2,5% do total mundial), e de esforço tecnológico, com P&D/PIB de 1,3% do PIB (mais que o dobro dos países do seu nível de renda), patina muito em patentes e regrediu – exatamente, regrediu – em produtos de maior intensidade tecnológica. Esse resultado é péssimo porque produtos desse tipo são mais lucrativos a longo prazo e possuem elasticidade renda mais alta. Mas o que é pior é que sem esse tipo de produção não se forma a sinergia típica da economia baseada em conhecimento, na qual a oferta de C&T é um insumo relevante para as empresas (já que elas estão em setores de alta intensidade tecnológica) e ao mesmo tempo o esforço competitivo demanda mais e melhor conhecimento, estimulando que os indivíduos estudem mais e se especializem.

De acordo com os dados do Observatório da Complexidade Econômica referentes a 2020, o Brasil possuía um ECI de 0,44, apresentando-se como o 47º país mais complexo (já foi o 21º). Atualmente o Brasil exporta o equivalente a 1,22% do total mundial. Ao contrário do que acontecia nos anos 1980 essas vendas se concentram em commodities, cujo PCI (nível de complexidade) é geralmente negativo. Ao mesmo tempo, nos segmentos cuja produção é “difícil” e exigente em esforço tecnológico das empresas, a situação é inversa: nossa participação, apesar de não ser nula, é muito baixa. A tabelinha abaixo traz a participação do país nos sete capítulos do sistema harmonizado que concentram produtos de alta e média alta intensidade tecnológica:

Equipamento elétrico e eletrônico 0,12%
Veículos e partes 0,58%
Maquinário industrial 0,42%
Fármacos 0,19%
Aeroespacial 1,58%
Instrumemtos de precisão 0,11%
Armas e munições 3,76%

Como se pode observar, em praticamente todos os capítulos, a participação do Brasil é muito menor que sua fatia total nas exportações mundiais (1,22%), com apenas duas exceções. Possivelmente o sucesso nesses setores excepcionais seja um valioso guia quando, quiçá em um futuro não muito distante voltemos a pensar em combinar política de CT&I com política industrial.  O que há neles que não há nos demais?

Deixe uma resposta