*escrito por Marcos Batista
O Brasil demorou 400 anos para atingir 100 milhões de toneladas de grãos em 2001, 15 anos depois já produzíamos 200, e para 2023 esperamos 300, e nestes últimos 20 anos demos este salto sem um apoio compatível, efetivo e articulado para o agronegócio (agropecuária e agroindústria). Os números acima sugerem o quanto fomentar e coordenar melhor estas cadeias pode aquecer a indústria – algo realmente em débito na última década. Existem 189 produtos industriais exclusivamente vinculados à agropecuária, dos 805 listados na Pesquisa Industrial Mensal do IBGE. Ou seja: representam 29% dos produtos industrializados no país, e estão entre os que, em sua maioria, tiveram a produção aumentada, enquanto os outros diminuíram. Deste contexto das atividades rurais surgem os chamados “complexos agroindústriais”, onde as atividades do campo ganham cada vez mais os contornos institucionais e tecnológicos da indústria
As indústrias fornecedoras de insumos e tecnologias para o agro podem ser divididas em 8 segmentos: (agricultura) i. sementes e mudas, defensivos e herbicidas, inoculantes e reguladores de crescimento, ii. máquinas agrícolas e industriais e iii. fertilizantes; (pecuária) iv. indústria de rações, v. vacinas e produtos veterinários e vi. inseminação artificial e; (comércio e serviços) vii. embalagens e ingredientes e viii. aplicativos de gestão e de tecnologias de informação. Em 2016, o Brasil constava como terceiro maior produtor de sementes do mundo (US$ 4,127 bilhões), atrás apenas da China (US$ 10,66 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 12 bilhões), e em relação aos defensivos, apensar do aumento de registros há uma diminuição no uso, algo a se acentuar com a adoção de instrumentos de agricultura de precisão. Já os inoculantes baseados na fixação biológica de nitrogênio (FBN) vem de uma crescente extraordinária, já em 2018 usada por 82% dos produtores. Na produção de insumos para a pecuária, a produção de rações mostrou aumento na produção nos últimos anos, e mesmo com a falta de incentivo aos seus fornecedores e da alta taxação sobre os produtos (cerca de 50%, na mesma ordem de cigarros e bebidas alcoólicas) a demanda cresce 3.9% anualmente aqui, e 2% lá fora. Por outro lado, há uma leve diminuição na demanda por vacinas, o que aponta para um desaquecimento da pecuária comercial entre 2011 e 2017, tendência que deve ter sido revertida nos últimos anos. Em todo o caso, observa-se um aumento de 15% neste período das inseminações para gado de corte, indicando para uso mais intensivo de tecnologia na pecuária de corte, algo confirmado pelo crescimento no mercado de rações; o mesmo não ocorre nas inseminações no gado leiteiro, reduzida em cerca de 5%. Entre 2014 e 2018 o setor de embalagens registrou crescimento médio de 1,1% ao ano, principalmente impulsionado pela crescente preferência de produtos rurais mais qualificados separados em porções menores, atestando tanto uma qualificação do valor agregado dos produtos quanto a mitigação do desperdício. Estas novas exigências também impulsionaram a produção de aditivos que garantem melhores condições para produtos in natura, sendo marcante o aumento no uso destas substâncias entre 2018 e 2019 (6,7%). A reindustrialização a partir do agro é sim um caminho viável para o Brasil.
Referências: https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2023/05/por-que-nao-o-protagonismo-do-agro-na_9.html?m=1