O cooperativismo de trabalho médico brasileiro é o maior do mundo

*escrito com Rodrigo Ximenes

O cooperativismo de trabalho médico brasileiro é o maior sistema cooperativo de saúde do mundo, assumindo a primeira posição em 2013 com vendas de 19,46 bilhões de dólares, seguido pelo Healthpartners Inc. com 5,22 bilhões e pelo Group Health Cooperative com 3,66 bilhões ambos com sede nos Estados Unidos da América (EUA).  A população brasileira ultrapassou em 2021 a marca de 213 milhões de pessoas segundo estimativa populacional divulgada pelo IBGE e é esse imenso mercado que as empresas de planos e seguros de saúde cada vez mais concentradas e com capital estrangeiro querem conquistar. Em divulgação mensal, a Agência Nacional de Saúde (ANS) anunciou que o número de beneficiários da saúde suplementar (planos de saúde) atingiu 48,4 milhões de pessoas em julho de 2021. Destes mais de 18 milhões são beneficiários de cooperativas de trabalho médico, Unimeds. Segundo dados da World Health Organization (WHO) de 2015 a maior parte dos recursos para a saúde no Brasil vem do setor privado, e o total dos gastos em saúde representa 9% do PIB, enquanto que nos EUA chega a 17%, na Alemanha, França e Holanda 11% e 6% no México. O gasto per capta em Saúde no Brasil é de 780 dólares, de 9.535 dólares nos EUA, 4.591 dólares na Alemanha e 534 dólares no México.

O cooperativismo de trabalho médico está presente em 84% do território nacional, com 4.686 municípios atendidos.  E segundo o IBRC – Instituto Ibero-Brasileiro de Relacionamento com o Cliente no ano de 2018 teve a percepção do melhor plano de saúde do Brasil pela população brasileira, e teve 85% de grau de satisfação com o plano de saúde de seus beneficiários. O Sistema Unimed tem 282 operadoras de planos de saúde, 37% de participação entre o total. No ano de 2018 as receitas de contraprestação de planos de saúde do Sistema Unimed totalizaram R$64,0 bilhões. O mercado de saúde suplementar fechou o mesmo ano com R$192,0 bilhões. O cooperativismo de trabalho médico brasileiro é responsável por mais de 100 mil empregos diretos. E conta com 115 mil médicos cooperados, que representa, 22% do total de médicos brasileiros. Além disso tem como um de seus princípios a participação na comunidade com diversos projetos sociais em saúde, educação, capacitação profissional e responsabilidade socioambiental. As cooperativas de trabalho médico tem como princípios a adesão livre e voluntária de seus cooperados, a autonomia e independência, a gestão democrática (um cooperado um voto), a participação econômica dos cooperados, a Intercooperação, a Educação e o Interesse pela comunidade. No Brasil 115 mil médicos brasileiros são cooperados, muitos dos quais proprietários de clínicas, laboratórios, hospitais e serviços de saúde com geração de empregos diretos e indiretos em cada um dos 4.686 municípios aonde estão presentes, movimentando a economia local.

Como colocado por Cassiolato et al. o papel do Estado na oferta de serviços públicos de saúde continua sendo objeto de dissenso. De um lado temos modelos que privilegiam a atenção primária universal e pública e de outro um grande espectro de modelos mistos entre o público e o privado, chegando a ser proposto por alguns a privatização completa dos sistemas de saúde. A discussão tem tomado grandes proporções e é importante ressaltar que mesmo nos modelos privatistas, o Estado mantém seu papel de coletor de impostos e promotor, por meio do poder de compras, financiador e gerador de pesquisa, desenvolvimento e inovação, além de mantenedor das bases de dados que hoje são uma das principais fontes de informação para inovação em saúde e para permitir maior lucratividade no privado. Ainda que seja necessário aprofundar nessa discussão é inegável o importante papel que as cooperativas de trabalho médico desempenham no CEIS brasileiro merecendo atenção, até por serem um foco de resistência à financeirização da prestação de serviços de saúde no Brasil.

 

Referências:

  1. Bahia L et al. Das empresas médicas às seguradoras internacionais: mudanças no regime de acumulação e repercussões sobre o sistema de saúde no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 2:e00154015, 2016.
  2. Gadelha, CAG et al. O Complexo Econômico-Industrial da Saúde 4.0: por uma visão integrada do desenvolvimento econômico, social e ambiental. Cadernos do Desenvolvimento.Vol. 16, n. 28 (2021) Rio de Janeiro: Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, 2021.
  3. Gadelha, CAG; Costa, LS. Saúde e desenvolvimento no Brasil: avanços e desafios. Rev Saúde Pública 2012;46(Supl):13-20
  4. Bahia L et al. Planos privados de saúde com coberturas restritas: atualização da agenda privatizante no contexto de crise política e econômica no Brasil. Cad. Saúde Pública 2016; 32(12):e00184516.
  5. The world co-operative monitor: exploring the co-operative economy – report 2015.
  6. Agência Nacional de Saúde (ANS) https://www.gov.br/ans/pt-br
  7. World Health Organization (WHO) 2015.
  8. CADU: Unimed do Brasil – fevereiro/2019_competência 1/2019
  9. Bresser-Pereira L.C. Em busca do desenvolvimento perdido – um projeto novo-desenvolvimentista para o Brasil. FGV Editora. 2018.
  10. Cassiolato, J.E. et al. Novas tecnologias digitais, financeirização e pandemia Covid-19: transformações na dinâmica global produtiva e no papel do Estado e impactos sobre o CEIS. Cadernos do Desenvolvimento.Vol. 16, n. 28 (2021) Rio de Janeiro: Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, 2021.

 

 

 

 

1 thought on “O cooperativismo de trabalho médico brasileiro é o maior do mundo”

  1. 25% da população brasileira esta coberta com planos privados de saúde e consome 55% do capital investido em saúde, já o sistema publico [sus] atende 75% da população e tem apenas 45% do capital. Acho que a privatização de parte do sus seja interessante para desafogar o sistema publico que está sobrecarregado.
    Trabalhei nos 2 sistemas e a produtividade do privado é incomparavelmente maior que a do público.
    Mas se não tivéssemos o sus, seria o caos.
    o Brasil investe em saúde quase 10% do PIB nacional, o que é comparável com os paises da OCDE.

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