Me lembro bem do final de 1994, início de 1995. O plano real acabava de ser lançado e a economia mexicana estava prestes a quebrar. Fruto de uma âncora cambial para acabar com a inflação implantada em 1987, o peso mexicano estava completamente fora do lugar. Sobrevalorizado e sofrendo um enorme ataque especulativo. O aumento de preços no México e os anos de euforia criando bolhas e desequilíbrios que não foram suportáveis. Antes da desvalorização o governo mexicano tentou. Cortes de gasto, programa de privatização, tudo para agradar o FMI. Qual era o problema da economia mexicana?
Excesso de gastos e governo perdulário, segundo os países ricos. Bastava privatizar e praticar austeridade fiscal. Deu certo? Não! Os cortes só pioravam a recessão e as taxas de juros para financiar o México explodiam. Em janeiro de 1995, 9.000 companhias mexicanas faliram e mais de 1 milhão de mexicanos foram demitidos. Nem o empréstimo de 20 bilhões de dólares oferecido pelos EUA foram suficientes. O peso foi desvalorizado, acabando com a âncora cambial por lá. Crise mexicana.
Brasil, 13 de Janeiro de 1999. O Banco Central brasileiro manda comunicado para o mercado de câmbio brasileiro avisando que não mais iria intervir para segurar nossa taxa. Chegava ao fim nossa âncora cambial implantada em setembro de 1994 para ajudar na estabilização de preços do plano real. Depois de algum crescimento, nossas contas externas saem do controle. O endividamento externo explode e passamos a sofrer recorrentes ataques especulativos contra nossa moeda. Nossos juros em dólar disparam e por aqui o Gustavo Franco aumenta a SELIC para 40% ao ano para tentar segurar a fuga de capital. Respostas do governo para a crise? Corte de gastos e austeridade fiscal. Temos que agradar o FMI para receber os empréstimos que nos ajudariam a não quebrar. Funcionou? Não! A economia brasileira não saía da recessão e nossa dívida interna e externa explodiam! Até que veio a crise de 1999 com a desvalorização gigante da moeda brasileira! Nosso pacote de empréstimo do FMI de 30 bilhões de dólares não deu conta.
No final de 2001 as taxas de juros pagas pelos títulos da divida externa Argentina se aproximavam de 50%. D. Cavallo havia voltado para o governo em 2001 para tentar consertar as trapalhadas do plano de conversibilidade que mergulhava agora a Argentina numa recessão enorme. A moeda estava sobrevalorizada e a economia totalmente parada. De novo as políticas adotadas para sair da recessão foram as de corte de gastos públicos e austeridade. O típico jogo do “confidence bulding”. O país já estava no buraco e o corte de gastos públicos só piorava as coisas. No caso argentino o pacote de salvamento foi de U$40 bilhões. Que também não foram suficientes. No início de 2002 veio uma desvalorização bombástica que iria jogar a economia na lona. Os pacotes de privatização e cortes de gasto não adiantaram. O gráfico abaixo mostra esses casos de sobrevalorização da moeda e crise.
Paper que escrevi sobre o tema
Pergunta de um leigo: corte de gastos + privatizações não salvam economias de um país. Então o que salva?
por aqui acho: https://www.paulogala.com.br/a-receita-do-desenvolvimento-economico-estado-mercado/