“Assume A, assume B, … blah blah blah … and so we have proven that P is true”. Vale muito a pena ler o texto de Paul Romer (Nobel 2018) sobre a situação da macroeconomia hoje. Basicamente Romer argumenta que a enorme sofisticação da modelagem nos últimos anos somada à falta de espírito científico dos macroeconomistas resultou num retrocesso de conhecimento de mais de 30 anos. O macroeconomista típico de hoje sabe menos do que sabia há 30 anos atras. Claro que isso não se aplica aos economistas em geral nem aos macroeconomistas “atípicos”. Num momento de acalorado debate entre economistas brasileiros sobre “ortodoxia” e “heterodoxia” vale a pena dar uma olhada no que diz Romer. O grafico acima da “deflação de Volcker” ilustra o ponto de Romer no texto.
https://paulromer.net/wp-content/uploads/2016/09/WP-Trouble.pdf
*Nobel de Paul Romer: https://economiadeservicos.com/2018/12/06/um-nobel-para-a-economia-de-servicos/
Li o texto em uma versão pessoal do inglês e penso que a luz da “pesquisa básica”, cabem a seguinte crítica e comentários: É verdade que os fatos científicos, nesta qualidade, devam ser demonstrados. Que os macroeconomistas tradicionais abdicam da análise crítica da base de dados a priori e que é a realidade da economia atual que deve alimentá-la. Mas não podemos concordar com o argumento de que pelo fato dos macroeconomistas tradicionais não regredirem criticamente os dados que utilizam, a macroeconomia se resuma em crenças e não em ciência. Ou mais, a própria Economia seria uma pseudociência perigosa porque alimenta a tomada de decisões das autoridades, etc…
Assim, é preciso reler a crítica de PAUL ROMER a macroeconomia à luz analítica ao menos : após citar Solin e traçar um paralelo entre o que este autor escreveu sobre os físicos (cientistas) e o que ele (Romer) atribui aos macroeconomistas, continua a explanar a falta de conexão entre a realidade e a modelagem macroeconômica: “As condições para o fracasso estão presentes quando alguns pesquisadores vêm a ser respeitados por contribuições genuínas sobre o corte da modelagem matemática. A admiração se transforma em deferência para esses líderes. A determinação leva ao esforço ao longo das linhas específicas que os líderes recomendam. Como a orientação da autoridade pode alinhar os esforços de muitos pesquisadores, a conformidade com os fatos não é mais necessária como um dispositivo de coordenação. Como resultado, se os fatos desvirtuarem a visão teórica oficialmente sancionada, eles são subordinados. Eventualmente, a evidência é relevante. O progresso no campo é julgado pela pureza de suas teorias matemáticas, como determinado pelas autoridades. Uma das surpresas no relato de Smolin é sua rejeição da desculpa oferecida pelos teóricos da corda, que eles não prestam atenção aos dados porque não há nenhuma via prática Para coletar dados sobre energias na escala que a teoria das cordas considera. Ele faz um caso convincente de que havia uma abundância de fatos inexplicados que os teóricos poderiam ter abordado se quisessem (Capítulo 13). Na física como na macroeconomia, o desprezo pelos fatos deve ser entendido como uma escolha. O argumento de Solin se alinha quase perfeitamente com uma taxonomia para o esforço humano coletivo proposto por Mario Bunge (1984). Começa por distinguir campos de “pesquisa” de campos de “crença”. Em campos de pesquisa como matemática, ciência e tecnologia, a busca da verdade é o dispositivo de coordenação. Em campos de crença como religião e ação política, as autoridades coordenam os esforços dos membros do grupo. Não há nada inerentemente ruim sobre a coordenação pelas autoridades. Às vezes não há alternativa. O movimento abolicionista era um campo de crença que dependia das autoridades para tomar decisões como se seus membros deveriam tratar a encarceração de criminosos como escravidão. Alguma autoridade teve que tomar essa decisão por não haver nenhum argumento lógico, nem qualquer fato, que os membros do grupo poderiam usar independentemente para resolver esta questão. Na taxonomia de Bunge, a pseudociência é um tipo especial de campo de crenças que afirma ser ciência. É perigoso porque os campos de pesquisa são sustentados por normas que são diferentes das de um campo de crença.(…)”
Apesar do abstracionismo matemático com o mundo real, Romer se escandaliza com a desfaçatez dos cientistas indagados pela falta de dados, corroborando com o que Smolin descrevera no capítulo 13: a energia não permite ser catalogada e medida sem que seja modificada pelo instrumental que a observa. Com essa perspectiva em mente, vai atribuir à modelagem macroeconômica, uma derivação sinonímia: eles (os macroeconomistas) tem baseado seus modelos em crenças. E conclui: isto quer dizer que a Economia não é uma ciência. (Esta também é a conclusão, cá entre nós, do economista do mercado financeiro, Delfim Neto, aliás, citado pelo colunista da Folha de São Paulo, Clóvis Rossi, (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2016/12/1843628-economista-demole-suposta-teoria-ortodoxa-que-predomina-no-brasil.shtml), para justificar seu apreço pelo artigo de Romer). Este tipo de análise, talvez caiba para a análise da Contabilidade Pública no que se refere ao Orçamento Público, pois, como é sabido, apesar dos dados econômicos, contábil e financeiros que o fundamenta, a rigor e em última análise, dependerá da tomada de decisão das autoridades para que seja implementado e, talvez, por isso, alguns tratadistas o considere como uma peça de ficção. A contribuição de Romer para tirar do pedestal a macroeconomia tradicional não deve ser desconsiderada, ao contrário, como bem lembra o articulista, este tipo de ortodoxia é majoritário dentre o maienstrean e, a arrogância e desprezo pelas análise de outros especialistas, escondem uma fragilidade que não se quer deixar ver ou responder: os fins da ciência econômicas é para atender os objetivos de mercados específicos ou os fins da ciência econômica é para atender os objetivos de bem estar da coletividade ?