* escrito com Thiago Caliari
PINTEC 2017: precarização da capacidade de inovação e nenhuma surpresa.
Os resultados da PINTEC 2017 saíram e não foram nada animadores. Já era esperado pela comunidade um resultado ruim, mas no geral é decepcionante. Nenhum indicador agregado apresentou crescimento em relação ao triênio anterior. No total de P&D por atividade inovativa, a queda chegou a 32% nos últimos 10 anos (2,85% para 1,95%). Mesmo na inserção de inovação através da compra de máquinas e equipamentos, estratégia usualmente a mais utilizada na indústria nacional, a queda foi de 52% no mesmo período(1,28% para 0,62%). O pequeno grupo de empresas que tem P&D interno continua, mas o parque fabril nacional está deteriorando rapidamente. Estamos perdendo o bonde dos novos paradigmas tecnológicos mais uma vez.

Não se pode dizer que a deficiência da capacidade e dos resultados tecnológicos não vinham sendo há tempos sinalizados. Por trabalhar há algum tempo com estudos e indicadores de C&T, gostaríamos de destacar alguns trabalhos que apontam nossas dificuldades.
Em artigo publicado recentemente na JKE, (https://doi.org/10.1007/s13132-020-00645-1), foi mensurada a cumulatividade tecnológica dos investimentos em inovação da indústria de transformação do Brasil com base nas PINTECs 2008/2011/2014. O intuito foi captar a influência de investimentos em t-1 e t-2 no sucesso de inovações (produto e processo) no período t. Os resultados mostraram que as inovações realizadas pelas firmas foram reduzindo seu grau de novidade ao longo dos anos, que a cooperação com agentes do Sistema de Inovação não tem efeito cumulativo e também é baixo o efeito da cumulatividade tecnológica nas inovações de produto e de processo. Em nossa definição, encontramos que as firmas seguem uma estratégia passiva-dependente (compra de tecnologia estrangeira) para inovação de processo e imitativa-ativa (baixa capacitação na estrutura interna de suporte) em inovação de produtos.
Em outro artigo (ainda no prelo, em breve disponível na Science and Public Policy) fruto de uma tese de doutorado, observou-se a capacidade de absorção (CA) de conhecimento das empresas também da indústria de transformação, tanto de fontes acadêmicas quanto de fontes de mercado (consumidores, fornecedores). Os resultados mostram que a aquisição de CA é feita predominantemente através de P&D externo e treinamento, com dependência da habilidade de indivíduos em detrimento a processos estabelecidos intra-firma.
Argumenta-se que, em geral, as firmas apresentam um círculo vicioso da absorção de conhecimento, gerado por dificuldades macroambientais e intra-firma. O ambiente não favorece a adoção de estratégias de longo prazo (instabilidade cambial, juros, política), mas induz as empresas a se concentrarem em estratégias de aprendizado ou na adaptação de tecnologias externas, onde a P&D é menos relevante. Limita a base de conhecimento, que reduz a demanda por C&T e induz firmas a adotar estratégias de curto prazo e baixo risco.

Destacamos ainda a estruturação da TRIPS na América Latina. No livro do link (https://amazon.com.br/Economia-Pol%C3%ADtica-Patenteamento-Am%C3%A9rica-Latina/dp/8546215863), pudemos organizar estudos que analisaram a implementação do acordo TRIPS para os países da América Latina e o impacto nas empresas nacionais. Através de variados estudos teóricos, empíricos e nacionais, os resultados dos capítulos são uníssonos ao destacar que o sistema de patenteamento horizontal cria entraves para a inovação de empresas residentes, favorecendo o know-how e escala de C&T de empresas transnacionais. Em geral, elas conseguem criar mercados cativos e, no resultado líquido, diminuir a geração de inovação nesses países.
Em suma, são apenas alguns estudos que levantam as características e dificuldades que vem sendo discutidas no sistema de C&T nacional. Ao se acompanhar essa discussão, a deterioração de instrumentos de política de C&T dos últimos anos e os resultados macroeconômicos a partir de 2015, os resultados da PINTEC não devem causar estranhamento ou surpresa. É só a continuação de um processo de declínio produtivo e tecnológico que vem passando a indústria nacional há um bom tempo. A tríade falha consistente das políticas macroeconômicas, ambiente institucional horizontalizado e falta de instrumentos bem estabelecidos de políticas produtivas e tecnológicas vem tornando o trabalho de reconstrução da indústria nacional cada dia mais difícil.
Oi Paulo tudo bem
Queria te fazer uma pergunta .
Economistas como Michael Roberts dizem que o Mundo vive uma hipertrofia de capital especultaivo.
Como que a industria em um pais dominado como o Brasil , poderia se desenvolver , se hoje temos essa hipertrofia de capital especulativo e ao mesmo tempo soifremos como pais semi-colonial
exato. muito dificil