Política cambial e Desenvolvimento Econômico na China

O câmbio subvalorizado chinês foi parte de uma estratégia que vem dando certo já desde os anos 80. Ao promover a competitividade de seus produtos, o governo chinês foi capaz de implementar, junto com outras políticas, um enorme upgrade na indústria. Esse modelo de crescimento puxado por exportações tem funcionado muito bem, como aliás funcionou no Japão, Coréia do Sul, Taiwan e até mesmo na Malásia, Indonésia e Tailândia. No caso chinês, as reservas foram a 4 trilhões de dólares e o volume de exportações passa da casa do 1 trilhão (em 1980 Brasil e China exportavam num ano 20 bilhões de dólares).

Para segurar a taxa de câmbio, a China tem um grande aparato de controles de capital e faz pesadas intervenções no mercado. Transações financeiras com o resto do mundo são fortemente controladas, muitas delas proibidas até. O governo chinês foi um comprador voraz dos dólares gerados a partir dos mega superávits na conta corrente e comercial até 2015. Não deixava o câmbio se apreciar de jeito nenhum, como deveria ser num sistema mais pró-mercado. O ‘abandono’ do câmbio fixo desde 2010 se deveu a enorme pressão sobre o regime. Apesar de ter anunciado em 2010 que não mais adotaria um regime de câmbio fixo, o governo chinês continou a fazer corpo mole em relação à questão. Pra que mudar uma estratégia que faz a China crescer a 10% ao ano e já a colocou no patamar de segunda maior economia do mundo?

Como medir a distorção do câmbio chinês? O gráfico abaixo mostra a evolução do preço do Big Mac no Brasil, EUA e China desde 1997. Durante a maior parte do período, o Big Mac na China ficou na casa dos U$1.2. Duas explicações a respeito. Primeiro os custos de produção por lá são bem mais baratos mesmo, especialmente mão de obra e imóveis (não tradables), o que torna o Big Mac mais barato em comparações internacionais. Mas ainda assim fica clara a política deliberada de manter a moeda competitiva. Segundo o índice Big Mac da revista the economist, em todos os anos desde 1997 a o Big Mac chinês está entre os mais baratos do mundo, ou seja, a China mantém sua moeda muita competitiva além dos baixos custos de produção local. Os últimos gráficos mostram a evolução longa do cambio real na China numa serie calculada pelo Banco Barclays e pelo BIS.

O caso brasileiro também é curioso. Começamos a série com o preço do Big Mac acima do EUA. Depois da desvalorização de 1999 o Big Mac por aqui fica barato, indicando que nossa moeda esta numa posição mais competitiva. Com a volta da apreciação o preço do Big Mac sobe de maneira forte no Brasil. A partir de 2007 fica mais caro aqui do que nos EUA, apesar dos nossos menores custos de produção em imóveis e mão de obra. Com a crise de 2008 há uma forte desvalorização de nossa moeda que volta a se apreciar com a recuperação brasileira de 2009.

BIG_BRAZILBIG_CHINArer_china_barclaysrer_bisver também sera que o regime cambial da China aguenta?

19 thoughts on “Política cambial e Desenvolvimento Econômico na China”

  1. Bom dia Paulo, tudo bem? gostaria exatamente como a China mantém sua moeda desvalorizada? Seria o Banco Central chinês em converter os dólares de suas exportações e transações em contas correntes em Yuan Reminbi, fazendo com que sua moeda continue sempre desvalorizada perante o dólar? Por Favor! qualquer resposta me ajudaria. Grato.

  2. Olá .. Eu gostava de saber qual a principal razão para que alguns países com moedas depreciadas não tenhas vantagens advindas da mesma(aumento do volume de exportações, por exemplo).. por vezes a situação tende a piorar (inflação). Será o tipo de economia? Será as acções ou falta delas por parte dos fazedores de politicas?

      1. A minha pergunta é mais para aqueles paises que sofrem a depreciaçao por causa da valorizaçao da moeda dos outros paises, e não como uma estratégia politica- económica..

        Mas nesse caso da desvalorização, esta seria nos preços relativos
        entre os bens comercializáveis e não comercializáveis
        ?

          1. Então quer dizer que já que as consequências negativas irão sempre aparecer independentemente do tipo de país, a solução está nas politicas e nas reacções dos fazedores de politica desses países…

  3. Então é correto dizer que a China, por ser um país que investiu na industrialização, pode desvalorizar sua moeda para ser competitiva nas exportações? Já o Brasil que só exporta matéria prima não pode desvalorizar tanto? Sem investimento na indústria seremos refém da china?

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