Diversificação produtiva no modelo econômico do Chile

Em um trabalho de 2004 (texto aqui) Dani Rodrik analisa com maestria o papel da política industrial no desenvolvimento econômico no passado e nos dias de hoje. Mostra que nem a visão neoclássica do estado “hands off”  nem a visão do velho desenvolvimentismo estão certas em relação ao papel que a política industrial exerceu e deve exercer no processo de desenvolvimento econômico. Rodrik defende uma visão pragmática em relação à questão; o estado deve ajudar o setor privado a encontrar oportunidades produtivas novas e rentáveis que contribuam para o desenvolvimento econômico. Novas atividades econômicas que não seriam exploradas automaticamente pelo setor privado por conta de externalidades de coordenação e informação. Segundo Rodrik, a diversificação produtiva no Chile, por exemplo, não foi o resultado do livre funcionamento dos mercados. No México, a indústria automotiva e a indústria de informatica são a criação de políticas de substituição de importações, seguidas por políticas tarifárias preferenciais no âmbito da NAFTA. O papel desempenhado por essas políticas no Leste Asiático é bem conhecido. O que é menos apreciado é a forma como o mesmo vale também para a América Latina. A tabela abaixo lista os cinco principais itens de exportação para os Estados Unidos de três principais economias da América Latina: Brasil, Chile e México. Quando se deixa de lado as exportações de commodities tradicionais, tais como cobre e petróleo bruto, aparecem produtos que foram grandes beneficiários de políticas industriais.  No caso do Brasil, o aço, aviões, e a indústria calçadista foram criação de políticas de substituição de importações do passado; altos níveis de proteção, subsídios e crédito publico foram deliberadamente usados para gerar rendas para os empresários que investiram em novas áreas e para construir clusters industriais.

No caso do Chile, políticas industriais desempenharam um grande papel nos setores de frutas, madeiras e salmão. O movimento para criar marcas de vinhos e exportar em garrafas e não “bulks” nos anos 70 foi fundamental. Nessa época o Chile já era uma potência industrial regional. Mesmo sob pinochet houve uma política industrial mais sofisticada, voltado para o exterior. A grande empresa CODELCO produtora de cobre não foi privatizada (Reinert 2007, pg. 273). A Fundacion Chile é um órgão público que foi criado por fundos doados pela  ITT; começou a experimentar com salmão na segunda metade da década de 1970 e criou uma empresa no início de 1980 usando uma tecnologia adaptada do que se fazia na Noruega e na Escócia. A empresa foi vendida para uma empresa de pesca japonesa. Antes dos esforços da Fundação Chile, o pais não exportava praticamente nenhum salmão; hoje é um dos maiores exportadores de salmão do mundo. Os gastos públicos em P&D para frutas foi também significativo nos anos 60, o que ajudou a preparar a indústria para o mercado mundial. E no caso das madeiras, há uma história de pelo menos 60 anos de subsídios para plantações, bem como um grande impulso a partir de 1974 para transformar a madeira, papel e celulose em um cluster de móveis e madeiras para exportações. A partir dessas analises, Rodrik se pergunta então: como desenhar uma política industrial eficiente? Por uma lado existe o claro risco de uma proximidade excessiva entre os burocratas e empresários que de margem a “captura” do estado com processos de corrupção e rent seeking que desvirtuam o processo de articulação e coordenação da política industrial tornando a mero instrumento de rent seeking. A reposta de desenho institucional para tentar evitar esse tipo de comportamento seria o isolamento dos burocratas e criação de distância em relação aos empresários regulados e coordenados. Conforme argumenta Rodrik essa boa estratégia para evitar corrupção vai exatamente na contramão de outra necessidade da política industrial que é justamente aproximar o setor público e privado para que juntos encontrem soluções produtivas mais rentáveis e promissoras. O equilibro entre esses dois aspectos constitui para Rodrik o que seria uma política industrial ideal. Como fazer isso?

trabalho que escrevi sobre Chile:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31572009000300003

paper Rodrik:

https://www.sss.ias.edu/files/pdfs/Rodrik/Research/industrial-policy-twenty-first-century.pdf

*produção manufatureira per capita no mundo:

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