*escrito por Andre Roncaglia
A imprensa no Brasil é cliente de um monopólio ideológico de opinião econômica centrada no conceito de maximização da riqueza do acionista e das vantagens comparativas (não disse neoliberalismo, viu só?). Assim, não importa se empresa é estratégica ou não. A pergunta é sempre: Dá lucro? Não. Então, vende. Muitos economistas de mercado já deram de ombros a esta pergunta sobre a produção de microchips, dizendo: tem empresa estrangeira que faz melhor. Então, pra que gastar recurso público com isso? Prevalece o “argumento de autoridade”. É esperado o abandono do tema após meses ouvindo estes argumentos. Jornalistas da grande imprensa fogem de “micos” que podem expôs-lo(a)s ao ridículo de defender ideias “velhas” de Estado investindo em produção. Contudo, o mundo mudou e a imprensa precisa diversificar suas fontes. Economistas liberais disfarçados de “arautos da ciência” descartam debates importantes para o futuro do país com base em ideologia com verniz acadêmico, enquanto o mundo desenvolvido desrespeita flagrantemente estas teorias para defender seus interesses nacionais. Não é por outro motivo que os casos de sucesso do Japão, da Coreia do Sul e da China aproveitaram muito pouco da “sabedoria” dos economistas de credo liberal e optaram por proteger suas empresas estratégicas, mesmo quando elas ainda não davam lucros. Não falaríamos hoje de toyotismo como técnica revolucionária de gestão de cadeia de suprimentos, se o governo japonês tivesse extinto a empresa na década de 1950, quando ela dava redobrados prejuízos. A empresa precisou de 30 anos de proteção e subsídios para se firmar. A Toyota é apenas um exemplo de investimento nacional em um setor estratégico em um momento histórico crucial. Hoje, os semicondutores são o que o automóvel era nos anos 1930. Em 1939, o governo japonês expulsou a Ford e a GM e investiu no país, fugindo de suas vantagens comparativas. É sintoma do viralatismo da nossa “elite” intelectual a omissão perante a extinção criminosa do CEITEC bem quando a empresa se firma com muitos contratos lucrativos (nacionais e internacionais) em um setor estratégico e pulsante, que conta com elevada demanda mundial. Perderemos mais uma vez o bonde da história. Para quem anda desatualizado em termos de debate economico no mundo sugiro a leitura do ultimo livro de Mariana Mazuccato, Mission Economoy.
André Roncaglia é professor de economia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pesquisador associado do CEBRAP. Escreveu com Paulo Gala o livro “Brasil, uma economia que não aprende”. Twitter: @andreroncaglia e Youtube: andreroncaglia.
Brasil não conseguiu nem ganhar uma simples concorrência para colocar chips no passaporte, perdeu para uma empresa italiana.
A verdade é o o Brasil já perdeu o time dessa indústria e vai gastar muito e obter pouco resultado pois não é somente a capacidade de desenvolvimento e produção, mas tbm a competitividade de oferecer o melhor custo benefício e isso os países asiáticos são imbatíveis.