*escrito com Felipe Augusto Machado
Artigo da revista The Economist ( https://amp.economist.com/britain/2019/05/22/bail-out-british-steel-why-not-jamie-olivers-restaurants-too?__twitter_impression=True ) traz à tona discussões sobre caminhos para o desenvolvimento econômico e algumas das maiores limitações do pensamento liberal como base teórica que se propõe a explicar o processo de riqueza das nações. A artigo da Economist basicamente equipara os setores de restaurantes e siderurgia por causa do emprego. No entanto, esse é apenas um único indicador e, mesmo assim, o impacto da siderúrgica é maior do que o do restaurante. Fornecedores da siderúrgica em questão dependem muito mais dela do que fornecedores do Oliver dependem dele, por causa da estrutura de mercado muito mais concentrada.
Talvez o principal seja não reconhecer que as atividades produtivas diferem quanto à capacidade de contribuir para o aumento de renda do país. Por exemplo Serviços como os ligados a restaurantes contribuem pouco para o aumento de produtividade. A produtividade de um garçom é similar em qualquer lugar, independentemente da tecnologia disponível ou do know-how e da educação do trabalhador. Salários costumam ser baixos. Já indústrias, como a siderúrgica por exemplo, apresentam retornos crescentes de escala. São intensas em capital. Know-how e tecnologia são determinantes. Consequentemente, a produtividade apresenta nível mais elevado e cresce mais do que a de serviços não sofisticados.
Tão importante quanto são os encadeamentos, a siderurgia é considerada estratégica, entre outros motivos, porque costuma puxar muitos setores a montante e suprir a jusante vários setores de alta tecnologia, como de defesa, robótica e aeroespacial. Diante dos altos investimentos e da posição estratégica da siderurgia, é natural que o Estado esteja envolvido ou seja chamado a intervir. O restaurante de Oliver, por melhor e maior que seja, é apenas um entre vários. Ttecnologia e barreiras à saída são bem menores; encadeamentos dos restaurantes são basicamente para trás, com setores primários ou se baixa tecnologia, como alimentos processados. Por fim, outra limitação grave é ignorar questões de economia política. Justamente por ser estratégica, países costumam proteger e incentivar suas siderúrgicas por razões de desenvolvimento econômico e de segurança nacional. Até o começo do governo de Magaret Tatcher o governo britânico ajudava bem as empresas. Estatizou a Rolls-Royce em 1971, ajudou a empresa de carros British Leyland. Depois de Tatcher tudo mudou até a crise de 2008 quando o governo teve que salvar os bancos.


produtividade dos diversos setores no UK: https://www.niesr.ac.uk/blog/mind-gap-productivity-uk%E2%80%99s-low-wage-sectors
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