Produtividade da economia brasileira afunda com perda de escala e de empregos industriais

A tabela acima (retirada do capitulo 8 desse livro) mostra a produtividade do trabalho nos diversos subsetores produtivos do Brasil. A industria da transformação emprega um numero razoável de pessoas com alta produtividade (ver gráfico abaixo do Credit Suisse). O setor de serviços não sofisticados emprega muita gente com baixa produtividade. O setor de serviços sofisticados emprega muito pouca gente com alta produtividade. A agricultura emprega pouca gente com boa produtividade. O setor da industria extrativa emprega muito pouca gente com alta produtividade. O setor que mais perde empregos no momento no Brasil é o industrial. O gráfico abaixo mostra que do total ocupado, os empregos industriais ja começavam a perder espaço em 2011. O problema dessa dinâmica é que a produtividade total da economia tende a cair já que o motor principal de produtividade de qualquer economia está na industria.

A possibilidade de mecanização e especialização é maior na indústria do que em outros setores por conta da maior possibilidade de divisão do trabalho intra-indústria e entre a indústria e outros setores, algo claramente explorado e discutido na literatura econômica estruturalista a partir das leituras de Kaldor e Myrdal dos 1960 e 1970. Os insights originais de Smith sobre as manufaturas e a fabrica de alfinetes foram ampliados no trabalho de Allyn Young (divisão do trabalho e increasing returns) dos anos 1920 e também no pensamento austríaco de Bohm Baverk. Kaldor parte dos trabalhos de Allyn Young e da divisão do trabalho dentro das empresas e entre as empresas para destacar a importância dos retornos crescentes de escala na indústria. Para alguns austríacos a lá B. Baverk o setor industrial também é chave.

William Baumol dá uma explicação muito elegante para a diferenca de prodtuividade existentes entre bens e servicos: quando o trabalho é uma atividade fim (educação, saúde e lazer, que são “tecnologicamente NAO progressivas”) a mecanização e alcance de economias de escala é muito mais difícil, senão impossível; ao contrário das atividades em que o trabalho é uma atividade meio, por exemplo manufaturas que são “tecnologicamente progressivas” . Nesse último caso as economias de escala e escopo estão mais presentes, por isso os ganhos de produtividade são muito mais elevados. Algo parecido pode ocorrer com os serviços sofisticados: marketing, design, IT, finanças, advocacia, etc. Para Baumol o aumento de produtividade ocorre principalmente no setor de bens. Os serviços não conseguem aumentar produtividade de forma relevante: músicos, educação, garçons, cabeleireiros. São iguais em todos os lugares. O aumento de produtividade no setor de bens acaba pressionando tbem os salários dos setores de serviços; os preços e salários desse setor sobem, na ausência de aumentos de produtividade. Por isso Cortar cabelo em Zurich fica mais caro do que cortar em São Paulo, apesar da produtividade de nossos cabeleireiros ser a mesma dos suíços. paper aqui

Essa característica da indústria e das possibilidades de divisão do trabalho ficaram conhecidas como as economias de “roundaboutness” entre os economistas austríacos (termo chave de HPE de toda essa discussão) que diz o seguinte: se o Robinson Crusoé estiver sozinho numa ilha vale mais a pena ele gastar tempo fazendo um barco e uma vara de pesca do que sair nadando para pescar peixes. Ou seja, se ele dividir a tarefa de pesca e “mecaniza-la” ele será bem mais PRODUTIVO do que se sair nadando para pescar. Nessa linha Allyn Young destaca a importância do roundaboutness que Smith tão bem sacou e o Bohm Baverk aprofundou. Conclusão: as atividades industriais são as mais propícias para se aplicar o roundaboutness (divisão do trabalho, especialização e mecanização) e, portanto, são o motor da produtividade de uma economia.


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bom paper sobre o tematexto clássico de Allyn Young (1928)tamanho da força de trabalho no mundo, paper empirico sobre o tema

emprego no Brasil (fonte)

tabela

produtividade no Brasil

resumo_prod

ocupação no Brasil

populacaoempregos_industriais

notas metodológicas do trabalho do Credit Suisse sobre produtividadenota_metodologica

participação dos setores no PIB

tabela

mapas de valor adicionado e ocupacoes

mapa_ocupacoes mapa_VA

capitulo8

Livro do ipea sobre produtividade no Brasil vol Ivol IIótima base de dados aqui

paper veloso sobre o tema:

http://www.fgv.br/professor/epge/ferreira/ProdutividadeSetorialFinal.pdf?fbclid=IwAR1-caWNQOC8IwN7-AkahW1f1fImzL-6-3q41YGy1f5rc3IRivftYAkkgbY

2 thoughts on “Produtividade da economia brasileira afunda com perda de escala e de empregos industriais”

  1. Interessante o ponto. Todavia, vejo que o setor serviços tem sido alvo de profunda mudança qualitativa por conta da internet e programas de computador. Veja o caso do serviço ensino. A mudança será de tal magnitude que o contexto de aula presencial será alterado profundamente, sobrando mais tempo para novas aprendizagens. No caso do curso de economia já vejo a hora de muitos poderem ter aula ao vivo com Lucas, Sala-I-Martin, Krugman, etc. Fico em duvida portanto se o setor serviço, de fato, nao pode se valer de mudanças tecnológicas e conseguir aumento de produtividade significativo.

  2. As análises apresentadas por Paulo Gala oferecem, na minha opinião, uma visão tecnicamente bem embasada e mais objetiva dos graves problemas econômicos estruturais do Brasil. Assuntos pontuais, como esse da produtividade, são mais eficazes do que apresentar e discutir os problemas em termos gerais. A economia é um campo muito complexo, vasto e fragmentado, de modo que um tópico ou tema por vez facilita muito a compreensão.

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