*trecho de meu novo livro escrito com o brilhante economista André Roncaglia
Hausmann e Hidalgo (2011) nos mostram que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais complexos e commodities como bens menos complexos. Maquinário, produtos químicos, medicamentos, aviões, navios e eletrônicos se destacam como bens mais complexos do mundo. Por outro lado, pedras preciosas, petróleo, minerais, peixes e crustáceos, frutas, flores e agricultura tropical apresentam baixíssima complexidade. Têxteis, equipamentos para construção e alimentos processados situam-se numa posição intermediaria. A grande maioria de patentes existentes no mundo hoje estão ligadas a bens manufaturados (ver Schoen et al 2012). Apenas cinco setores produtivos concentram 90% das patentes mundiais: i) engenharia elétrica, ii) ótica e instrumentos de precisão, iii) química, iv) fármacos, v) engenharia mecânica e metalurgia (ver WIPO patentes). Bens com muita complexidade são uma espécie de “hub de conhecimento produtivo”. Estão carregados de potencial de conhecimento e de tecnologia. Produzir um desses bens aumenta a probabilidade de produzir algo próximo com tecnologia parecida. Produzir bens complexos facilita a nova produção de outros bens complexos, cria-se alto potencial multiplicativo de conhecimento.
Alguns exemplos históricos interessantes: o tratado de Versalhes proibiu a produção de aviões na Alemanha, a BMW que produzia turbinas para os aviões começou a produzir motores de moto, depois motos e carros. Na Suécia a Saab fazia aviões e começou depois a produzir carros (recentemente a empresa foi vendida aos chineses). A Rolls Royce começou a produzir carros e depois foi para as turbinas. Países que produzem motores de carros avançados provavelmente tem engenheiros e conhecimentos que permitem produzir uma série de coisas similares e sofisticadas como motores de barcos, de motos e outros tipos de motores. Países que produzem somente bananas ou frutas tem conhecimentos limitados e provavelmente serão incapazes de fazer bens mais complexos no futuro. Lembre-se de que, nesta pandemia, não conseguimos produzir rapidamente nem máscaras de papel, nem EPI para os agentes de saúde. Indústria é versatilidade. É um seguro contra tempestades perfeitas como esta que estamos vivendo.
Livro novo, Brasil uma economia que não aprende: ja está disponível!