A inflação americana deu sinais de alívio com preços do consumidor e do produtor abaixo do esperado em Outubro. O petróleo, as commodities em geral e o preço dos alimentos continuam recuando no mercado mundial. O minério de ferro e todas commodities metálicas também cederam. Tudo isso trará uma trajetória mais benigna para a inflação em 2023. O mercado de juros dos EUA já precifica isso, colocando um movimento mais brando para a política monetária do FED nos próximos meses com alta de juros de 0,50% na reunião de dezembro. O mercado chama isso de “pivot do FED”, situação em que o BC americano fica menos agressivo em relação a alta de juros. As bolsas americanas voltaram para um patamar bem mais elevado e os juros longos cederam para níveis que invertem a curva de juros; significa dizer, o mercado acredita que no futuro crescimento, juros e inflação serão menores do que hoje. Tudo leva a crer que no primeiro semestre do próximo ano o BC americano deve interromper o ciclo da alta de juros para possivelmente começar a cortar sua taxa básica no final de 2023. Difícil dizer hoje se os Estados Unidos entrarão em recessão nos próximos meses. O PIB da economia americana caiu no primeiro e no segundo trimestre de 2022, configurando uma “recessão técnica” mas se recuperou no terceiro e quarto trimestres. O mercado de trabalho americano continua robusto e o desemprego em mínimas de 50 anos. Por outro lado, o mercado imobiliário dos EUA da claros sinais de desaceleração com queda de preços de casas e queda em nível de vendas. A economia americana está desacelerando segundo indicadores de PMI já em zona de contração e pesquisas de confiança dos consumidores também mostram sinais de preocupação.
No Brasil a situação é semelhante. Nossa curva de juros está invertida com juros longos menores do que os curtos. O mercado acredita que inflação e juros serão menores no futuro. O BC brasileiro sinaliza que a taxa SELIC ficará no patamar de 13,75% por período prolongado. No relatório Focus o mercado enxerga inflação de 2022 próxima de 6% ante uma expectativa de quase 9% no meio do ano. Para 2023 o mercado acredita em inflação de 5% e para 2024 menos ainda. A redução do ICMS sobre combustíveis e o corte do preço da gasolina e diesel tiveram enorme efeito na inflação brasileira de 2022. A queda dos preços agro no mundo também tem contribuído. Nosso desemprego ainda está muito elevado e com muita informalidade, o que pressiona salários para baixo. Podemos imaginar sim um cenário mais benéfico para inflação no Brasil e no mundo com atividade mais fraca nos EUA, Europa e Asia, num contexto de queda de preços de commodities e juros mais elevados em todo lugar. Mas todo cuidado é pouco quando montamos cenários e tentamos antecipar o que virá mais adiante.
A tensão do mercado no momento está na incerteza sobre a futura equipe econômica e a PEC de transição. Um economista mais ortodoxo e fiscalista teria a capacidade de acalmar os ânimos do mercado e trazer os juros futuros e dólar para baixo; uma pec de transição mais enxuta teria o mesmo efeito. A situação fiscal brasileira só poderá ser equacionada de fato com a volta do crescimento econômico. O aumento de arrecadação e crescimento de 2022 são um belo exemplo disso: tivemos nesse ano o melhor resultado fiscal desde 2015. O grande desafio da nova equipe econômica será a retomada da expansão do Brasil. Desde 2015 não temos crescimento acima de 2%, com a exceção do ano corrente. “Em casa que falta o pão todo mundo briga e ninguém tem razão”, um ditado português que se aplica muito a situação brasileira hoje. O programa de renda mínimo brasileiro deve ser mantido e o anúncio de uma nova regra fiscal facilitaria muito a vida do novo governo. Mas sem a volta do crescimento a polarização e conflito na sociedade brasileira seguirão elevados. A boa notícia é que podemos crescer bastante nos próximos anos devido a elevada capacidade ociosa que ainda temos no país. O corte da taxa selic e investimentos públicos e privados serão dois pilares fundamentais para um novo ciclo de expansão brasileiro.
Ideias chave:
- A inflação americana deu sinais de alívio com preços do consumidor e do produtor abaixo do esperado em Outubro.
- Tudo leva a crer que no primeiro semestre do próximo ano o BC americano deve interromper o ciclo da alta de juros para possivelmente começar a cortar sua taxa básica no final de 2023.
- O mercado de trabalho americano continua robusto e o desemprego em mínimas de 50 anos.
- Por outro lado, o mercado imobiliário dos EUA da claros sinais de desaceleração com queda de preços de casas e queda em nível de vendas.
- No Brasil a situação é semelhante. Nossa curva de juros está invertida com juros longos menores do que os curtos. O mercado acredita que inflação e juros serão menores no futuro.
- A tensão do mercado no momento está na incerteza sobre a futura equipe econômica e a PEC de transição.
- A boa notícia é que podemos crescer bastante nos próximos anos devido a elevada capacidade ociosa que ainda temos no país. O corte da taxa selic e investimentos públicos e privados serão dois pilares fundamentais para um novo ciclo de expansão brasileiro.