A ciência das redes complexas trouxe grande salto e conteúdo empírico para as antigas ideias de economistas acerca da concentração da produção no espaço. Desde A. Marshall, chegando a nova geografia econômica de Krugman, as ideias econômicas de porquê e como as atividades se encontram no espaço sempre estiveram presentes. A ciência das redes trouxe robusta comprovação empírica para essas ideias. Dentro das inúmeras frentes de pesquisa abertas por essas perspectivas, destacam-se os trabalhos sobre desenvolvimento econômico. Países ricos são aqueles que desenvolvem e cultivam atividades produtivas “nobres” (com alta incidência de inovação tecnológica, retornos crescentes de escala e algum poder de monopólio). Países pobres não conseguem desenvolver e cultivar essas atividades já “dominadas” por países ricos. Quanto mais atividades nobres existem num determinado pais, maior a probabilidade de que novas atividades desse tipo se desenvolvam; existe aí uma dependência de trajetória e dependência de proximidade. Hidalgo e Hausmann (2007) calcularam essas proximidades usando ciência das redes e big data e chegaram a resultados empíricos impressionantes. Ótimo resumo de trabalhos sobre o tema aqui
O trator está mais próximo da soja, do pneu ou do motor? Medicamentos para uso veterinário estão próximos do boi, do frango, de hormônios ou de químicos em geral? E os carros? Estão mais próximos das motos ou aviões? Em grande breakthrough empírico e analítico, a perspectiva das redes complexas é capaz de calcular essas “distâncias tecnológicas de trás para frente. Ao calcular as probabilidades de co-exportações de produtos em diversos países essa metodologia mede as distâncias tecnológicas num espaço produtivo mundial. Dois produtos são “próximos” se vários países exportam esse par. Por exemplo, vinhos e uvas. Muitos países exportam só uvas, muitos outros exportam só vinhos, mas uma quantidade razoável de países do banco de dados exportam ambos, donde se conclui que vinhos e uvas são próximos. Claro que nesse exemplo a conexão é intuitiva, mas em casos mais complicados a metodologia ajuda muito a entender quais produtos estão próximos. Por exemplo, medicamentos e aparelhos de raio x, que estão “próximos”, apesar de não parecer intuitivamente. A importância da “proximidade” está na medida indireta que esta carrega sobre as capacidades locais de produção envolvidas em diversos bens. Com essas proximidades os autores são capazes de construir redes de conexões entre produtos.
Os muito próximos formam clusters ou “comunidades” nós termos do atlas. Essas comunidades são depois rankeadas em termos de complexidade de seus produtos. Em geral os produtos de alta conexão (em termos de proximidade com outros produtos) são complexos e os produtos de baixa conexão não são complexos. O mapa abaixo retirado do atlas da complexidade econômica mostra esse espaço produtivo de 120 países no comércio internacional de 750 produtos em 2012. As cores representam categorias de produtos, sendo os mais sofisticados as máquinas e equipemos na cor azul no centro. No cinturão externo estão as commodities agrícolas, minerais e energéticas. Os produtos altamente complexos estão no centro da rede e os de baixa complexidade estão na periferia. Os países ricos produzem e exportam os produtos do centro da rede, os países pobres produzem e exportam os produtos da periferia da rede – como diria a CEPAL.
https://piie.com/experts/peterson-perspectives/trade-talks-episode-66-paul-krugman-talks-trade?fbclid=IwAR3KzR7fkonw4VoEL0268er3QcATGfw7PwTqzoshqLWqPGO5dsS5OXvj5-I
Há outro importante fator. Historicamente os artesãos que deram inicio à produção de bens agiam não apenas com o intuito de acumular ganhos. Há outro fator na complexidade da geografia econômica. Dos artesões foram surgindo as pequenas fábricas lideradas por homens que tinham raízes na terra onde nasceram. A capacidade de produção foi aumentando, exigindo investimentos, e por fim requerendo aumento de consumo. Dos pequenos líderes iniciais que criaram as empresas de família, pouco restou, as grandes corporações estão nas mãos dos grandes Fundos que operam globalmente buscando prioritariamente lucros nas vendas e na valorização das ações, deixando as coisas rolarem, mas agora estão inquietos com a displicência da classe política e o surgimento de disrruptores. no sistema eleitoral.