Brad Delong analisa em seu belo livro “Concrete Economics” a longa tradição protecionista na política econômica americana. Começando com Alexander Hamilton, passando por Abraham Lincoln, Teddy Roosevelt, Franklin Roosevelt, Dwight Eisenhower. Alexander Hamilton, o primeiro secretário do tesouro norte-americano (1789-1795), está entre um dos principais formuladores de medidas protecionistas que estimularam a instalação e desenvolvimento da indústria manufatureira norte-americana. Seu conhecido trabalho Reports of the Secretary of the treasury on the subject of manufactures (1791) contem muitas das idéias que seriam depois formalizadas por Friedrich List (1789-1846) no argumento da proteção a indústria infante presente em seu trabalho The National System of Political Economy (1841). O projeto dos Estados Unidos, especialmente dos estados do norte, se contrapunha frontalmente às recomendações do liberalismo inglês que, segundo alguns americanos, era produzido para exportação e não consumo interno. Um dos exemplos do fervor protecionista americano no século XIX encontra-se na Guerra Civil. Além da questão da escravidão, o outro estopim do conflito foi o embate entre o protecionismo da União, que representava as indústrias do norte, e o liberalismo da Confederação, representando os interesses agrícolas dos sul. Abraham Lincoln teria sido eleito a partir do voto decisivo dos estados protecionistas, especialmente New Jersey e Pensilvânia. A vitória dos estados do norte na Guerra Civil transformou os Estados Unidos num dos mais assíduos praticantes da proteção à indústria infante até a primeira guerra mundial.
Desde os 1980 os EUAm que já tiveram 20 milhões de trabalhadores empregados em manufaturas, migraram para um perfil de serviços financeiros e empresariais, apesar de que o contingente de pessoas empregadas em serviços não sofisticados nos EUA tem crescido de forma rápida. Os tipos de ocupação e de atividades produtivas têm produtividades do trabalho muito distintas. O mapa de ocupações ou empregos, ou estrutura produtiva, diz muita coisa sobre quem é rico e quem é pobre. Países ricos empregam muita gente em seus setores manufatureiros e de serviços sofisticados e têm uma estrutura produtiva complexa. Países pobres não foram capazes de constituir uma estrutura produtiva complexa e são incapazes de constituir e empregar seus trabalhadores em setores de serviços sofisticados. China e Índia têm uma porcentagem baixíssima da população em setores de serviços sofisticados e uma população total enorme. Conseguiram avançar no emprego de trabalhadores no setor manufatureiro e estão caminhando aceleradamente na construção de um sistema produtivo complexo. No outro extremo existem países como Alemanha, Coreia do Sul e Japão com um enorme setor de serviços sofisticados, muita gente empregada no setor manufatureiro e uma estrutura produtiva altamente complexa.
As medidas de produtividade do trabalho calculadas como valor adicionado dividido por número de ocupações mostram em termos empíricos a característica propulsora de desenvolvimento econômico dos setores manufatureiros e de serviços sofisticados. São setores capazes de empregar muita gente com produtividade mais elevada do que a média da economia. O mapa abaixo mostra a estrutura de empregos industriais e de serviços sofisticados como porcentagem da população empregada para os EUA desde 1995. Países ricos se destacam com grandes participações da população empregada nos setores de alta produtividade. O Brasil se destaca com um dos piores níveis de emprego industrial entre os emergentes e com um dos mais baixos níveis da amostra. EUA, França, UK e Áustria têm baixo emprego industrial e alto emprego em serviços sofisticados em termos relativos e grande complexidade produtiva. Austrália tem baixa complexidade, baixo nível de empregos industriais, mas tem um elevado número de empregos no setor de serviços sofisticados. Mesmo tendo já empregado muitos trabalhadores no setor industrial, hoje tanto Austrália quanto EUA conseguiram migrar para um perfil de emprego que privilegia os serviços sofisticados. A Austrália que teve praticamente 25% do seu PIB no setor industrial nos anos 60.
- Atlas of Economic Complexity (https://atlas.media.mit.edu/en/)
classificação dos empregos: