Renda per capita e complexidade econômica

Seguindo a metáfora de C. Hidalgo e R. Hausmann, o desenvolvimento econômico pode ser entendido com o uso do brinquedo lego (atlas da complexidade econômica, criado numa parceria entre o Media Lab do MIT e a Kennedy School de Harvard, http://atlas.media.mit.edu/). São ricos e desenvolvidos aqueles países que possuem muitas peças de Lego e são capazes de montar “brinquedos” complexos. O que são as peças de Lego? São as chamadas capacidades locais de produção ou competências técnicas de um país; não das pessoas, mas das empresas e organizações de uma determinada sociedade. Quanto maior e mais diversificado o número de empresas de um país, maior a quantidade de peças de Lego que são conhecidas e maior a quantidade de produtos que podem ser feitos. Cada peça de Lego é uma capacidade produtiva que pode ser combinada com outra peça de Lego para gerar um produto (brinquedo). Dentro das empresas existem portanto várias capacidades produtivas (peças de Lego) que podem ser usadas em várias direções. Quanto maior a diversidade de empresas, maior a disponibilidade de capacidades e, portanto, maior o potencial de se produzir coisas (mais complexa a economia).

Como medir a “complexidade econômica” de um país? Hausmann, Hildalgo et al criaram um método de extraordinária simplicidade e comparabilidade entre países. A partir da analise da pauta exportadora de um determinado país são capazes de medir de forma indireta a sofisticação tecnológica de seu tecido produtivo. Os dois conceitos básicos para se medir se um país é complexo economicamente são a ubiquidade e diversidade de produtos encontrados na sua pauta exportadora. Se uma determinada economia é capaz de produzir bens não ubíquos, raros e complexos, há indicação de que tem um sofisticado tecido produtivo. Claro que há um problema aqui de escassez relativa, especialmente de produtos naturais como diamantes e urânio, por exemplo. Os bens não ubíquos devem ser divididos entre aqueles que têm alto conteúdo tecnológico e, portanto, são de difícil produção (aviões) e aqueles que são altamente escassos na natureza, por exemplo, o nióbio, e, portanto, tem uma não ubiquidade natural. Para controlar esse problema de recursos naturais escassos na medição de complexidade os autores usam uma técnica engenhosa: comparam a ubiquidade do produto feito num determinado país com a diversidade de produtos que esse país é capaz de exportar. Por exemplo: Botsuana e Serra Leoa produzem e exportam algo raro e, portanto, não ubíquo, diamantes brutos. Por outro lado têm uma pauta exportadora extremamente limitada e não diversificada. Temos aqui então casos de não ubiquidade sem complexidade.

No extremo oposto poderíamos citar equipamentos médicos de processamento de imagem, algo que praticamente só Japão, Alemanha e Estados Unidos conseguem fabricar, certamente um produto não ubíquo. Só que nesse caso a pauta exportadora de Japão, EUA e Alemanha são extremamente diversificadas, indicando que esses países são altamente capazes de fazer várias coisas. Ou seja, não ubiquidade com diversidade significa “complexidade econômica”. Por outro lado, um país que tenha uma pauta muito diversificada, mas com bens ubíquos (peixes, tecidos, carnes, minérios, etc…) não apresenta grande complexidade econômica; ele faz o que todos fazem. Diversidade sem não ubiquidade significa falta de complexidade econômica. O truque dos autores nessas medidas de complexidade é usar a diversidade para controlar a ubiquidade e vice versa.

Nessa linha de raciocínio os autores seguem classificando diversos países e chegam a correlações impressionantes entre níveis de renda per capita e complexidade econômica; esse indicador pode ser tomado como uma proxy do desenvolvimento econômica relativo entre países. Não à toa Japão, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e Suécia estão sempre entres os 10 primeiros países no ranking dos últimos 10 anos. Não é difícil perceber que o desenvolvimento econômico pode ser tratado como o domínio de técnicas de produção mais sofisticadas que em geral levam a produção de maior valor adicionado por trabalhador. É isso que o indicador de complexidade econômica acaba capturando de forma bastante engenhosa a partir de medidas de ubiquidade e diversidade da pauta exportadora dos diversos países.

*http://atlas.media.mit.edu/atlas/

**https://www.youtube.com/watch?v=GRp382ynu-Q

***http://www.levyinstitute.org/pubs/wp_616.pdf

Serra Leoa (exportações 2012)

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Austrália (exportações 2012)

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Japão (exportações 2012)

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Alemanha (exportações 2012)

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