Saltos tecnológicos explicam o desenvolvimento econômico

*Escrito por Mateus Abrita

Em tempos de crise muitas pessoas se perguntam como é possível alcançar o nível de renda dos países ricos e assim termos um bem-estar material mais elevado. Existem diversas estratégias e visões econômicas a respeito do tema, mas um olhar interessante está na tecnologia e no processo inovativo. Um dos grandes expoentes nessa temática foi o economista austríaco Joseph A. Schumpeter (1883-1950). Ele foi um dos primeiros a considerar que as inovações tecnológicas são o motor do desenvolvimento capitalista. Ele destacou que o impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da engrenagem capitalista decorre dos novos bens de consumo, novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização que a empresa capitalista gera. Nesse cenário as inovações tecnológicas ganham um destaque especial. Diversos autores deram continuidade na análise do impacto das inovações na economia, dentre eles, a pesquisadora venezuelana Carlota Perez. Ela analisou historicamente importantes processos de revoluções tecnológicas mundiais e identificou que a cada nova fase pode surgir uma janela de oportunidade para os países se desenvolverem. Nessas revoluções ocorrem uma combinação de produtos, processos, sistemas e indústrias recentes com estruturas preexistentes, que passam a ser redefinidas com o passar do tempo e, assim, esse salto tecnológico crítico pode gerar um impacto modernizante econômico abrangente.

Destacam-se cinco fases importantes que acabaram por se configurar verdadeiras “eras”. A Revolução Industrial (1771); vapor e ferrovias (1829); engenharia pesada, aço e eletricidade (1875); petróleo, automóvel e produção em massa (1908); e por último, a das telecomunicações e informática (1971) liderada por EUA, Europa e Ásia. As nações que lideram estas revoluções tendem a se beneficiar e experimentam um processo de grande crescimento econômico. Historicamente podem ser observados vários casos de superação do atraso pelos países, as duas primeiras revoluções foram capitaneadas pela Inglaterra, já a quarta e quinta pelos EUA. Países como Bélgica, França e EUA conseguiram alcançar níveis elevados de renda, na segunda revolução. A terceira revolução apresentou uma característica peculiar, pois foi liderada pela Inglaterra, EUA e Alemanha, na quinta revolução tecnológica países como Japão e Coreia do Sul ganharam destaque.

Justamente nessas mudanças de paradigmas tecnológicos que emerge uma “janela de oportunidade” para países atrasados apresentarem um melhor desempenho econômico, diminuindo a distância, alcançando ou até mesmo ultrapassando os países desenvolvidos. Por não terem uma estrutura produtiva enraizada e instalada, os países atrasados podem apresentar um menor grau de inércia para a mudança. Portanto, os países em desenvolvimento devem estar atentos a estas mudanças de paradigmas para tentarem superar o atraso econômico. Desse modo, o grande desafio é promover setores e produtos com elevado conteúdo tecnológicos, alta atratividade em termos de demanda interna e externa, com retornos crescentes de escala. Esses setores teriam efeito de retroalimentação positivo na economia de ganhos de produtividade e crescimento, formando um círculo virtuoso de crescimento e possibilitando assim o desenvolvimento socioeconômico.

Mateus Boldrine Abrita é professor efetivo na UEMS. Doutor em economia pela UFRGS. Possui trabalhos científicos publicados no Brasil e no Exterior.

1 thought on “Saltos tecnológicos explicam o desenvolvimento econômico”

  1. Mas seria fundamental termos capital e inteligência pra investir. O primeiro nós temos, mas o segundo, me parece raro de ocorrer neste pais. Basta ver como é aplicado o dinheiro público neste pais. Lamentável

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