*escrito com Fausto Oliveira
Países ricos empregam muita gente em seus setores manufatureiros e de serviços sofisticados e têm uma estrutura produtiva complexa. Países pobres não foram capazes de constituir uma estrutura produtiva complexa e são incapazes de constituir e empregar seus trabalhadores em setores de serviços sofisticados. China e Índia têm uma porcentagem baixíssima da população em setores de serviços sofisticados e uma população total enorme. Conseguiram avançar no emprego de trabalhadores no setor manufatureiro e estão caminhando aceleradamente na construção de um sistema produtivo complexo. No outro extremo existem países como Alemanha, Coreia do Sul e Japão com um enorme setor de serviços sofisticados, muita gente empregada no setor manufatureiro e uma estrutura produtiva altamente complexa. O Brasil se destaca com um dos piores níveis de emprego industrial entre os emergentes e com um dos mais baixos níveis da amostra. Além da proporção de empregos nos setores de ponta de uma economia é importante também analisar o que especificamente se produz. Sabemos, por exemplo, que a manufatura alemã, coreana e japonesa é muito mais sofisticada do que a brasileira. Assim 15% de emprego manufatureiro em cada um desses países pode significar coisas bem diferentes.
Bob Rowthorn, dentre muitos outros economistas, analisou de maneira interessante o passo a passo do desenvolvimento dos países ou as fases do crescimento econômico. Num primeiro momento as economias pobres empregam a maioria de seus trabalhadores na agricultura. O progresso se da num segundo momento pela industrialização, trabalhadores são transferidos dos setores agrícolas de subsistência para manufaturas com produtividade mais elevada (A. Lewis). Parte das pessoas que migram para as cidades não conseguem empregos na manufatura e vão para o setor de serviços não sofisticados (varejo, garçons, atendentes, etc). Se o processo de desenvolvimento avança, novos empregos são criados em manufaturas high tech e serviços sofisticados (finanças, advocacia, marketing, TI, design). A disseminação de empregos em setores de manufatura high tech e serviços sofisticados, de alta produtividade, puxam para cima também os salários dos outros setores (além dos salários desses setores, Baumol, Balassa e Samuelson). Alguns países não conseguem chegar nesse estágio e ficam presos na armadilha de renda média, com indústrias low tech e serviços de baixa complexidade, o caso do Brasil.
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Apesar dos avanços das últimas décadas, e do protagonismo de um ou outro setor, a China está muito aquém de ser uma economia de ponta em termos mundiais. A produtividade da sua indústria como um todo, está longe de se igualar à produtividade das indústrias das grandes potências. O mesmo comentário cabe para o setor de Serviços.
A China está no estágio da Renda Média. Tem muito o que conquistar, e esta é a parte mais dura na subida da escada, como afirma Paulo Gala. Aliás, gostaria que o Paulo Gala comentasse esta minha opinião.
Muito obrigado.
aqui https://www.paulogala.com.br/a-china-escapou-da-armadilha-da-renda-media-alibaba-wechat-huawei-xiaomi-baidu/