*este texto é parte de meu novo livro com André Roncaglia, Brasil uma economia que não aprende
A zona de exportação de Shenzen na China e’ um belíssimo exemplo de cluster industrial high tech que conseguiu inclusive chegar a liga dos campeões mundiais. Vale a pena ver documentário da revista Wired sobre a região. A cidade é hoje uma das maiores e mais importantes da China. Era uma vila de Pescadores com menos de 100 mil habitantes nos anos 70, hoje tem mais de 15 milhões de moradores. Foi a primeira cidade chinesa a abrigar uma zona económica especial, implementada pelo governo chinês em 1979 e que transformou radicalmente a cidade numa base exportadora de manufaturas high tech. O poderio econômico apresentado por Shenzhen, figurando como um dos principais centros financeiros, urbanos, culturais e administrativos da China atual, é fruto de gigantescos estímulos do governo e atração de investimento estrangeiro. Em 2010 Shenzhen ficou na 4ª posição entre as cidades mais ricas da China, ficando atrás somente de Xangai, Hong Kong e da capital Pequim.
A cidade virou o “Vale do Silício da China” e superou a renda per capita do experimento liberal mais bem-sucedido do pós-guerra, Hong Kong, seu vizinho no Delta do Rio Pérola. O feito é impressionante por vários motivos. Escolhida como primeira Zona Econômica Especial para testar as reformas na China pós-Mao, Shenzhen iniciou seu crescimento, em grande medida, por meio de investimentos externos diretos de Hong Kong, que na época era industrializado. Colônia britânica até 1997, Hong Kong adotou uma via mais liberal, oferecendo sua vantagem comparativa na época, a mão de obra barata, em troca de investimentos externos para produzir bens simples. Quando os custos aumentaram, as fábricas partiram para lugares como Shenzhen. Sem indústria, e com localização e topografia apropriadas, Hong Kong se especializou em serviços desde então. Já Shenzhen, por meio de incessante planejamento governamental, tornou-se referência em alta tecnologia. No início o governo constituiu uma “zona econômica especial” dando isenção tributária geral para quem ali produzisse para exportação; ao mesmo tempo promoveu forte política de proteção tarifária protegendo as indústrias chinesas nascentes. Num segundo momento convidou os estrangeiros para usar essa incrível base logística na foz do Rio Pérola, repleta de mão de obra produtiva e barata. Auxiliou também a região e o país com uma política cambial ultracompetitiva para conquista de mercados no mundo. O aprendizado tecnológico ali foi incrível. Nos estágios finais as tarifas foram removidas e Shenzen virou um filho prodígio. A cidade de Shenzen produziu em 2010 mais de 75% dos tablets do mundo. E’ hoje um dos principais clusters regionais que produzem novas tecnologias para o mundo.
Livro Brasil uma economia que não aprende: novas perspectivas para entender nosso fracasso