Sirius, a maior infraestrutura científica já construída no Brasil

Sirius: o que a maior infraestrutura científica já construída no Brasil nos ensina sobre avanço tecnológico e cooperação entre empresas e institutos de pesquisa?

Escrito por Emanuel Galdino[1], Anapatrícia Vilha e Ramon Garcia Fernandez

Desde o final do ano passado, cientistas brasileiros e de outros países contam com uma das mais avançadas fontes de luz síncrotron do mundo para desenvolverem suas pesquisas. O Sirius é considerado a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no Brasil e vai permitir que o País avance no conhecimento em áreas como nanociência, biologia molecular estrutural, energias alternativas, saúde e agricultura. O projeto foi coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e pertence ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS, Campinas, SP), um dos quatro laboratórios do CNPEM. O Sirius é muito diverso em suas aplicações, podendo ser usado no desenvolvimento de inúmeros tipos de materiais e produtos, como novos medicamentos, por exemplo. Ele funciona como um grande microscópio capaz de observar a estrutura interna de materiais e revelar características sobre sua composição molecular e atômica. Grandes potências econômicas e científicas como Estados Unidos, Alemanha, China, Japão, Coreia do Sul, Canadá, Inglaterra, França e Suécia possuem uma ou mais fontes de luz síncrotron. O Sirius é um síncrotron de 4ª geração, está na fronteira do conhecimento, o que significa que tem atualmente a melhor performance mundial nesse tipo de equipamento científico. É, sobretudo, um projeto brasileiro feito por brasileiros, com um índice de nacionalização de seus componentes na casa dos 85%. Segundo dados do CNPEM, até 2018, 280 contratos para o fornecimento de peças e componentes já haviam sido estabelecidos com empresas nacionais. O mais interessante nesse processo de construção de um aparato científico desse porte e complexidade é entender a força de difusão tecnológica que ele carrega, além da capacidade de promover avanços para outros setores da sociedade, como as empresas, universidades e a comunidade local. No mínimo 45 empresas chegaram a desenvolver soluções tecnológicas em parceria com o CNPEM. Esse transbordamento resultou inclusive na criação de novas empresas para fabricar componentes para o Sirius. O projeto acabou ademais gerando efeitos de segunda ordem, dado que houve empresas que se tornaram fornecedoras das empresas participantes da construção, criando-se assim um efeito em cascata, transbordando para diferentes nichos e construindo uma rede tecnológica. A própria Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) percebeu a capacidade que o projeto tinha para qualificar as empresas paulistas em um patamar tecnológico superior. A entidade chegou a abrir dois editais de fomento específicos para o desenvolvimento de componentes chave para o Sirius. Por estar na fronteira do conhecimento e ser o que há de mais avançado no mundo em relação à luz sincrotron, as fornecedoras dos componentes tiveram que lidar com o desconhecido. Como não se tratava de produtos de prateleira, essas empresas investiram em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e contaram com o apoio e consultoria do próprio CNPEM, uma instituição altamente capacitada em soluções tecnológicas e que foi responsável na década de 1990 pela construção da primeira fonte de luz sincrotron brasileira, o UVX, um equipamento de 2ª geração. Esse relacionamento ocorreu de forma direta com os especialistas do LNLS e também na forma de workshops.

Além de desafios de natureza técnica, as empresas precisaram adequar seus processos internos, formar equipes mais qualificadas e, principalmente, manter uma dinâmica de proximidade e constante interação com o CNPEM, para entender exatamente as necessidades da instituição demandante dessas inovações. Como resultado, muitas empresas que participaram dessa construção apresentaram saltos tecnológicos significativos, além de terem sido estimuladas a incorporarem as tecnologias em seus negócios e de vislumbrarem novas possibilidades de mercado. Em relação ao marketing e prospecção de novos clientes, essas fornecedoras marcaram seus nomes como integrantes de um grande projeto brasileiro, o que certamente resultará em novos contratos fechados. Outro fruto desse trabalho é a possível contratação futura pelo CNPEM para outros projetos, já que grande parte desses equipamentos requer manutenção e atualização constantes. Para o CNPEM, como instituto de pesquisa, todo esse relacionamento com as empresas foi um ensinamento para as equipes dos laboratórios da instituição. Foi necessário que essas equipes entendessem o que uma empresa precisa, como ela funciona, quais são as suas necessidades e o que ela pode fazer com o seu orçamento. Na interação e empatia os dois lados aprenderam e ganharam. Em todo esse processo, o Brasil mostrou que também pode fazer parte de um grupo seleto de potências científicas, com capacidade para interagir nessa rede e propor soluções tecnológicas e inovadoras para combater os principais problemas sociais da atualidade.

[1] Emanuel Galdino é doutorando em Sustentabilidade pela USP e mestre em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC, onde fez sua pesquisa sobre o Sirius orientado pelos professores Ramon Garcia Fernandez e Anapatrícia Vilha, ambos da UFABC.

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8 thoughts on “Sirius, a maior infraestrutura científica já construída no Brasil”

  1. Orgulho! Eu tive a chance de assistir uma palestra na minha universidade (UFC) sobre o Sirius, realmente é uma estrutura incrível que me orgulha de ser brasileiro.

  2. Os brasileiros são inteligentes e capazes como os de qualquer outra nacionalidade. Infelizmente estão, na grande maioria, com a mente adormecida pela parafernália de programas sem sentido que assistem. Parabéns por divulgar esse conhecimento que nos orgulha de ser brasileiros e nos instiga a fazer mais e melhor, cada um na sua área.

  3. VEJO AGORA NOSSO PAÍS CAMINHR AO RUMO CERTO , APOS TER VISTO OS NOSSOS EX GESTORES CONSTRUIREM OBRAS FARAONICAS EM PAIASES VIZINHOS OU EM PAISES LONGIGUOS ! DAR GOSTO E SATISFAÇÂO EM SABER QUE O NOSSO DINHEIRO ESTA SENDO UTILIZADO EM GRANDES PROJETOS CIENTIFICOS E QUE AQUELA ROUBALHEIRA HA DE FICAR PARA TRAZ ! PARABENS AO TODO POVO ENVOLVIDO NESTE PROJETÃO ! QUE CERTAMENTE SERA DE GRANDE VALIA A NOSSO POVO !

    1. Sirius, a maior infraestrutura científica já construída no Brasil
      19/03/2021 Paulo Gala

      Sirius: o que a maior infraestrutura científica já construída no Brasil nos ensina sobre avanço tecnológico e cooperação entre empresas e institutos de pesquisa?

      Escrito por Emanuel Galdino[1], Anapatrícia Vilha e Ramon Garcia Fernandez

      (Desde o final do ano passado ), cientistas brasileiros e de outros países contam com uma das mais avançadas fontes de luz síncrotron do mundo para desenvolverem suas pesquisas.
      Isso mostra que o governo atual, não é retalhador!

    2. Osiris, usei o seu link e cheguei na história do laboratório. Ele teve seu projeto em 1986, governo FHC. Mas não importa porque o terreno foi doado pelo governo do Estado de SP e não pelo governo federal. Parte do recurso da construção também veio do governo estadual sendo que 85% veio da iniciativa privada.

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