Sobre a análise grafista na bolsa

Keynes escreveu no capítulo 12 da Teoria Geral que uma boa metáfora para entender o funcionamento do mercado acionário é a do concurso de beleza dos jornais da época. Um concurso onde ganha quem acertar quais são as mulheres mais bonitas de uma lista segundo a votação da maioria das pessoas numa enquete promovida pelo jornal. Importa então saber quais mulheres serão as mais votadas por todos para se ganhar o concurso e não descobrir quais são as “verdadeiramente” mais bonitas. Um jogo de second guessing, onde se tenta advinhar o que as pessoas vão fazer ou qual é o padrão de beleza médio ou ainda o que a cada um acha de cada tipo de beleza. Para Keynes a bolsa funciona exatamente assim: todos tentam advinhar qual será a ação preferida de todos! E não qual a melhor ação ou melhor empresa do ponto de vista de fundamentos. Ganha quem escolher antecipadamente a ação que todos gostarem. Claro que o truque aqui é entender como a massa se move e quais são os determinantes da escolha de empresas/ações queridas. Seguindo essa metáfora keynesiana não é difícil perceber que num mercado de informações pobres e assimétricas, como na bolsa, os agentes ou investidores estão sempre buscando maneiras de entender o que os outros fazem para antecipar os passos da maioria dos investidores. Saber qual ação será a bola da vez para se comprar ou vender. Se todos compram a ação sobe, se todos vendem a ação cai.

Esse tipo de comportamento faz sentido se entendermos que uma ação é uma aproximação da empresa que esta por trás dela e não é um pedaço propriamente dito da empresa (por mais ativista que seja o investidor). Então o relevante é saber como os fundamentos afetam as expectativas e daí sim como as expectativas afetam os preços. Sempre serão expectativas até porque as operações de uma empresa se desenrolam no futuro. E o futuro a Deus pertence. De modo que mesmo olhando os fundamentos de uma empresa voltamos ao problema keynesiano de entender como os agentes agirão em conjunto, tendo em vista a variação desses fundamentos.  Os investidores sempre querem saber o que farão os outros investidores em relação a qualquer empresa e ação. Nesse sentido poderíamos então pensar na analise grafista como fornecedora dessa coordenação necessária entre investidores. Os gráficos e a analise técnica seriam assim uma espécie de linguagem, cheia de ruídos claro, para coordenar ou tentar coordenar as expectativas dos investidores. O grafismo poderia então ser entendido como um aglutinador de expectativas na falta de mecanismos melhores para entendimento dos investidores. Ou no jargão keynesiano, uma convenção que ajuda o mercado a funcionar. Claro que “a verdade” não está nos gráficos.

Mas se forem bem usados podem sim dar muitas pistas dos próximos passos do mercado e é possível sim ganhar muito dinheiro apostando em analises grafistas. Os gráficos não dizem nada sobre a empresa, mas dizem muita coisa sobre o que os investidores pensam da empresa! São uma excelente fonte de informação para se tentar ganhar o concurso de beleza. E devem ser encarados como tal. Muitos estudos acadêmicos já mostram que inúmeras estratégias grafistas são vencedoras no longo prazo (ver a respeito o livro de Andrew Lo “The Evolution of Technical analysis”). Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!

Deixe uma resposta