Complexidade e produtividade em economia

Pensando da ótica de uma empresa: seria possível aumentar os salários dos funcionários, pagar mais impostos ao governo, reduzir os preços para os consumidores e ainda assim ter aumentos nos lucros? Sim! Se houver ganhos de produtividade relevantes dentro dessa empresa. A produtividade gera o excedente que pode ser distribuído a todos. O mesmo raciocínio vale para um país: é possível arrecadar mais, aumentar salários, aumentar lucros e aumentar a competitvidade de uma economia simultaneamente? Sim! Se a produtividade geral da economia (sistema produtivo) aumentar. Por isso o caminho para o desenvolvimento econômico é o aumento de produtividade. Como fazer isso é a questão mais relevante em economia na minha opinião. A construção de complexidade é a melhor resposta que encontrei até hoje. A produtividade agregada de uma economia aumenta conforme sua complexidade cresce.

A partir dessa perspectiva a dinâmica de produtividade de uma economia depende de sua configuração setorial. Não se trata então de educar mais ou até mesmo capacitar mais os trabalhadores; se trata de estimular e desenvolver os setores corretos. O padrão de especialização produtiva de uma economia é chave para entender o processo de aumento de produtividade. Ser produtivo significa dominar tecnologias avançadas de produção e criar capacidades e competências locais nos setores corretos. Produzir castanhas de caju ou chips de computador, carros ou sapatos, bananas ou computadores faz diferença. Ou seja, o processo de aumento de produtividade de uma economia não é setor-neutro (depende da composição agricultura, serviços e indústria do PIB) e depende do tipo de produto que um país é capaz de produzir. A produtividade da economia não depende dos indivíduos, é algo sistêmico. Trabalhadores inseridos em setores tecnologicamente sofisticados serão produtivos devido às características intrínsecas do setor e não a dos trabalhadores.

As comparações internacionais mostram que o grande diferencial de produtividade entre países está justamente no setor de bens transacionáveis, especialmente nos empregos industriais, longe dos chamados serviços não sofisticados. É bastante intuitivo entender que a produtividade de um garçom, de um motorista, de um piloto de avião ou de um vendedor de loja é praticamente igual na Europa, EUA, Ásia e Brasil. Até mesmo na construção civil, mesmo com auxílio de máquinas mais sofisticadas, a produtividade entre trabalhadores dos diversos países não é muito distinta. A altíssima produtividade dos países ricos ocorre então em outros setores que não esses, com destaque para os serviços sofisticados e indústria. A produtividade é em grande medida setor-específica e não trabalhador-específica. São ricos os países que cultivam seus setores de bens transacionáveis e de serviços sofisticados (EUA, Japão, Alemanha, nórdicos, sudeste asiático, etc) (Balassa, 1964). 

ver Por que a produtividade não aumenta no Brasil?A fábrica de alfinetes de Adam Smith e Construindo complexidademapa da produtividade de uma economia

19 thoughts on “Complexidade e produtividade em economia”

  1. Olá ! Sempre indago se a utilidade dos dados da “Produtividade Total” não seriam mais úteis se comparados com suas próprias séries ao invés de matrizes semelhantes. Ainda não estou convencido do alcance da “complexidade” global de cadeias sofisticadas, serem referência para cadeias setoriais (simples e/ou complexas). Penso que esta é uma das demandas em “p&d” (http://ipdme-instituto-p-d-metodologia.webnode.com/)

    1. A chave está na proposição de Adam Smith de que diferentes atividade produtivas tem diferentes potenciais de divisão do trabalho. Quanto maior a divisão do trabalho possível, maior o potencial de ganhos de produtividade é maior a necessidade de se produzir em redes!

      1. Esta proposição seria também válida para matrizes produtivas com estoques de capital e tempo de maturação diferentes ? (O meu incômodo não é com a teoria, mas com os dados comparativos tomados de matrizes – ainda que semelhantes… Não seria mais útil a comparação com as próprias series históricas da produtividade, por exemplo, total, do País ?)

        1. Acho que o raciocínio vale para mesmo nível de estoque de capital per capita. Veja, essa ideia de que o aumento da divisão do trabalho e portanto da complexidade aumenta a produtividade segue a linha dos economistas estruturalistas que dizem que para aumentos relevantes de produtividade é necessário que economia passa por transformações estruturais, uma mudança da estrutura produtiva. É claro que podemos pensar também em aumentos de produtividade de uma estrutura já existente com ganhos de escala ao longo do tempo por exemplo. Mas para dar enormes saltos de produtividade há que se mudar a estrutura produtiva; é isso o que aparece nas comparações internacionais entres países!

          1. O sr. quer dizer que a comparação entre países é mais um conceito do que um confronto entre capacidades produtivas semelhantes (complexas e/ou simples), isto é, a “comparatividade” apenas demonstra (ou prova) que para “dar enormes saltos de produtividade há que se mudar a estrutura produtiva” ?
            Então qual é o axioma para “o raciocínio vale para mesmo nível de estoque de capital per capta” ?

            Tanto a descrição do conceito – extraída das comparações internacionais- como a validade do raciocínio -para o mesmo nível de estoque -, estariam embasadas em axiomas externos ?

          2. A complexidade econômica e o nível de estoque de capital per capita caminham juntos, mas ainda assim eu diria que para mesmo nível de estoque de capital per capita, os países com maior complexidade são mais ricos. Os países pobres têm baixo nível de estoque de capital per capita e baixa complexidade.

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