Um mapa detalhado de 75 milhões de empregos no Brasil: educação, etnias, gênero e desigualdade

*escrito com Dominik Hartmann

Diversidade de etnia nos empregos brasileiros

Ocupações associadas a um nível relativamente alto de diversidade e alta participação de trabalhadores negros tendem a apresentar salários e níveis educacionais relativamente baixos no Braisl. Por outro lado, ocupações associadas com níveis relativamente baixos de diversidade e elevada porcentagem de trabalhadores brancos tendem a estar associados a níveis salariais e educacionais mais altos. Por exemplo, trabalhadores em ocupações de elite, como gestores de instituições financeiras, engenheiros da computação, pilotos, ou pesquisadores de ciências da saúde, tendem a ser brancos. Por outro lado, a maior parte dos trabalhadores em ocupações como extração de tabaco, sal, ceras e fibras vegetais, petróleo e gás tende a ser de negros (ver Tabela S3 do apêndice). Além disso, ocupações com elevado grau de diversidade tendem a estar na periferia do BIOS. É interessante notar que ocupações de menor diversidade racial não só apresentam leve clustering nos grupos de gestão e administração, como se distribuem por todo o BIOS. E possível até dizer que a história da escravização no Brasil persistiu na distribuição da diversidade racial demonstrada pela BIOS.

Trabalho que fizemos com mapeamento detalhado do mercado de trabalho brasileiro em inglês https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3399239, em português http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/27537

Partindo de um conjunto de dados de 76.6 milhões de trabalhadores brasileiros e de métodos da ciência de redes, mapeamos o Espaço Setorial-Ocupacional Brasileiro (“Brazilian Industry-Occupation Space” – BIOS). O BIOS mede em que grau 600 ocupações co-aparecem em 585 setores, resultando em uma rede complexa que demonstra como as comunidades setoriais-ocupacionais fornecem informações importantes sobre a segmentação em rede da sociedade. Demonstramos que gênero, raça, nível educacional e renda se concentram de forma desigual na estrutura centro-periferia do BIOS. Identificamos 28 comunidades setoriais-ocupacionais na estrutura em rede do BIOS e relatamos sua contribuição para a desigualdade de renda total no Brasil. Finalmente, quantificamos a pobreza relativa interna e externa dessas comunidades. Em suma, o BIOS revela como a associação de setores e ocupações ajuda a mapear as classes sociais e entender a desigualdade no Brasil.

Centro e Periferia

O esqueleto da estrutura de rede revela a estrutura centro-periferia do espaço setorial-ocupacional brasileiro. No centro há uma densa rede de ocupações relacionadas aos setores eletromecânico, metalúrgico, químico e de administração de empresas que pagam os melhores salários. Há no centro do BIOS forte interligação entre a administração das firmas e as atividades produtivas. Na periferia do BIOS, encontramos diversas atividades econômicas que apoiam o centro: infraestrutura (transportes, manutenção, trabalhadores marítimos e da construção civil), desenvolvimento humano (educação e saúde), serviços (técnicos, meios de comunicação, designers, judiciário, alimentação/restaurantes, varejo e segurança), direito e agricultura. Grupos periféricos de conexão relativamente densa são de ocupações associadas aos setores agrícola, têxtil, de saúde e de educação. “A average path length” das ocupações no centro do BIOS é menor e a conectividade é maior do que na periferia. Isso quer dizer que as ocupações do centro, como administradores de empresas, estão ligadas a muitas outras por meio de um conjunto variado de setores que exigem esses tipos de ocupação. Por outro lado, diversas ocupações periféricas, como maquinistas de trem, encadernadores, ou montadores de aeronaves, somente podem ser encontrados em determinados setores especializados. Assim, essas ocupações mais centrais tendem a também ter a cesso a um conjunto de conhecimentos mais variado, vindo de diferentes setores e ocupações e, portanto, ocupam uma posição mais central na sociedade. Um gestor, por exemplo, estará exposto a um conjunto diverso de ocupações ao longo de sua carreira, ao passo que uma ocupação mais especializada, como a de médico, estaria exposta a um conjunto menos diverso de ocupações.

Homens e mulheres

95% das pessoas em ocupações de nutrição, assistência social, serviços domésticos, psicologia e técnica odontológica são mulheres. Por outro lado, 99% das pessoas que trabalham em construção civil, escavação, transporte de cargas gerais e pesca são homens. Assim o BIOS captura com clareza a segregação do mundo do trabalho em setores e ocupações dominados/preferidos por homens, mulheres, ou ambos os gêneros. Como esperado, ocupações que tendem a estar associadas a competências manuais e técnicas são dominadas por homens, e as associadas com competências sociais, interativas e cognitivas são dominadas por mulheres, ou no mínimo apresentam maior porcentagem delas.

Educação

Os grupos ocupacionais dos setores de educação, saúde, gestão e administração, direito e eletromecânico tendem a apresentar níveis educacionais muito elevados. Diversos grupos de ocupações na periferia do BIOS, como os de agricultura, construção civil, madeira e têxteis, tendem a apresentar níveis educacionais baixos.

Diversidade Racial

Ocupações associadas a um nível relativamente alto de diversidade e alta participação de trabalhadores negros tendem a apresentar salários e níveis educacionais relativamente baixos. Por outro lado, ocupações associadas com níveis relativamente baixos de diversidade e elevada porcentagem de trabalhadores brancos tendem a estar associados a níveis salariais e educacionais mais altos. Por exemplo, trabalhadores em ocupações de elite, como gestores de instituições financeiras, engenheiros da computação, pilotos, ou pesquisadores de ciências da saúde, tendem a ser brancos. Por outro lado, a maior parte dos trabalhadores em ocupações como extração de tabaco, sal, ceras e fibras vegetais, petróleo e gás tende a ser de negros (ver Tabela S3 do apêndice). Além disso, ocupações com elevado grau de diversidade tendem a estar na periferia do BIOS. É interessante notar que ocupações de menor diversidade racial não só apresentam leve clustering nos grupos de gestão e administração, como se distribuem por todo o BIOS. E possível até dizer que a história da escravização no Brasil persistiu na distribuição da diversidade racial demonstrada pela BIOS.

5 thoughts on “Um mapa detalhado de 75 milhões de empregos no Brasil: educação, etnias, gênero e desigualdade”

  1. Professor eu li apenas este texto mas vi que o artigo pode me ajudar muito na minha pesquisa de TCC. Obrigado!

  2. Professor, mas e os pardos?
    Onde eu moro eu conheço VÁRIAS pessoas negras e pardas que são professores e profissionais muito bem qualificados, com uma ampla gama de diversidade de empregos. O pior mesmo é na Índia, onde o racismo é até PIOR com pessoas de pele escura!!

  3. Aliás, aonde é que estão os pardos? Onde eu moro conheço vários profissionais de alto escalão que são negros e mestiços. Aliás, há muitos casamentos interraciais na minha cidade. A prefeita da minha cidade é branca e o filho dela tem ma pele mais escura.

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