Um projeto nacional de desenvolvimento para a Nigéria

*escrito com Felipe Augusto

Odijie (2019) mostra como a política industrial nigeriana voltada à produção de cimento alterou o padrão colonial de comércio. O padrão colonial, liderado por empresas europeias, não gerou encadeamentos locais e não permitiu o surgimento de empresas de capital africano. Com 90 milhões de pessoas morando nas cidades, a Nigéria tem um grande potencial a ser explorado com vistas à industrialização. O governo começou limitando as licenças de importação somente àquelas empresas que produzissem cimento localmente utilizando insumos nacionais. Ademais, ajudou as empresas a conseguirem empréstimos baratos de corporações financeiras internacionais. Isentou impostos (VAT, impostos de importação sobre máquinas e equipamentos e impostos sobre investimentos). Estabeleceu Comitês público-privados para reduzir barreiras não tarifárias e facilitar o comércio com vizinhos, além de instituir programas de transporte alternativos. Importações, que representavam 76,5% do consumo doméstico quando a política foi implementada em 2002, caíram para apenas 3,5% em 2018. Produção doméstica saiu de 3 para 45 milhões t, com 95% dos insumos fornecidos localmente. Exportações cresceram 65% (maior crescimento setorial). Não se tratou apenas de quantidade. O cimento da Dangote, principal produtora nigeriana e 10ª maior do mundo, foi o primeiro na África a obter o mais alto grau de qualidade. Em 2010, criou um Instituto para treinar os empregados a adquirirem novas habilidades. Após atingir autossuficiência na produção de cimento em 2014/2015, as maiores empresas do país passaram a investir em países vizinhos. Hoje, por exemplo, a Dangote que administra a sua própria cadeia regional de valor. uma estratégia de inserção em cadeias globais de valor já em 2002 teria limitado o aprendizado organizacional e produtivo obtido pelas empresas com a criação de cadeias produtivas inteiras no país. Como resultado, as diversas estratégias de expansão da Dangote não teriam sido possíveis. Outros países africanos que aderiram a cadeias de valor antes de desenvolverem aprendizado produtivo não foram bem-sucedidos. A Dangote vem se tornando um enorme conglomerado nacional. Agora investirá US$ 15 bilhões em um complexo petroquímico que terá uma das maiores refinarias do mundo. A Nigéria é a maior produtora de petróleo cru da África, mas importa os combustíveis. Um próximo passo será tentar superar a doença holandesa!

Refs

https://www.bloombergquint.com/business/aliko-dangote-africa-s-richest-man-is-betting-his-money-on-a-vast-oil-refinery

https://www.academia.edu/40890497/Is_traditional_industrial_policy_defunct_Evidence_from_the_Nigerian_cement_industry

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