Um raio-X do mercado de trabalho no Brasil

*escrito com Uallace Moreira

Mercado de Trabalho no Brasil: situação só se agrava. Se somarmos a taxa de desocupação (13,3%) mais o desalento (5,6%), temos uma taxa de desemprego de 18,9%. Os indicadores mostram uma situação delicada e que tende a se agravar. Como podemos observar no gráfico abaixo, a taxa de desocupação aumentou para 13,3% em junho. Isso representa um crescimento da taxa de desocupação de 1,1 ponto percentual em relação ao trimestre de janeiro a março de 2020 (12,2%).

O fato preocupante é que o número de pessoas ocupadas continua caindo, alcançando níveis recordes, com 83,3 milhões no trimestre de abril a junho de 2020. É uma redução de -9,6%, ou seja, menos 8 876 mil pessoas em relação ao trimestre anterior (janeiro a março de 2020).

Em termos percentuais, o nível de ocupação da populacao no Brasil estimado em 47,9% no trimestre de abril a junho de 2020, apresentou uma redução de -5,6 pontos percentuais frente ao trimestre de janeiro a março de 2020 (53,5%).

Outro indicador que aponta para a situação delicada do mercado de trabalho é a taxa composta de subutilização, que alcançou 29,1%. Se olharmos no gráfico, observem que desde a aprovação da reforma trabalhista, a tendência é de crescimento.

Por que o crescimento da taxa de desocupação por preocupante? Nesse grupo,inserem-se grande parte das ocupações informais,assim como diversas atividades em tempo parcial, por tempo determinado ou sob contrato intermitente, ou seja, por ocupações precárias, com baixa renda. Essa característica do crescimento da taxa de desocupação aponta para um elemento estrutural e não conjuntural, fomentado pela reforma trabalhista. O que pode significar níveis de renda mais baixos, assim como situação de maior vulnerabilidade da condição do trabalhador. Para completar a situação delicada do mercado de trabalho, a taxa de pessoas desalentadas está aumentando, alcançando um percentual de 5,6%. Se somarmos a taxa de desocupação (13,3%) e a taxa de desalento (5,6%), temos um desemprego de 18,9%.

Quando consideramos a massa de rendimento real, de acordo com o IBGE, para o trimestre móvel de abril a junho de 2020, temos R$ 203,5 bilhões de reais, e quando comparada ao trimestre móvel de janeiro a março de 2020 apresentou variação de -5,6% – menos R$ 12,0 bilhões.

Síntese dos indicadores: a) crescimento da taxa de desocupação; b) queda no nível de ocupação para nível recorde; c) crescimento de forma estrutural da taxa de subutilização; d) crescimento da taxa de desalento; e) queda da massa de rendimento real dos trabalhadores.

Além dessas problemáticas, outro ponto relevante é a desigualdade dentro do mercado de trabalho: desigualdade de sexo e cor ou raça.

Por exemplo, no 1º trimestre de 2020, a taxa de desocupação era de 12,2%, enquanto para homens era de 10,4% e para mulheres era de 14,5%. Ou seja, para as mulheres, a taxa de desocupação era maior do que a média nacional.

Quando levado em consideração a taxa de desemprego por raça ou cor, no 1º trimestre de 2020, a taxa de desemprego entre os brasileiros que se declaram brancos de 9,8% permaneceu significativamente abaixo do que quando comparamos com a taxa de desocupação dos autodeclarados pretos de 15,2% e pardos de 14,0% Percebam que a taxa de desocupação de pessoas autodeclarados pretos ou pardos está acima da taxa média, enquanto das pessoas brancas abaixo.

As desigualdades na taxa de desocupação entre homens e mulheres se refletem também na desigualdade de rendimento médio nominal. Homens têm um rendimento médio nominal de R$ 2.574 e as mulheres R% 1.995. Mais uma vez, os homens apresentam uma renda média nominal acima da renda média nominal nacional e as mulheres uma renda abaixo da renda média nacional.

A situação da diferença de renda está presente também quando analisamos o rendimento médio nominal por cor ou raça. Pessoas brancas ganham R$ 3.020, pessoas pretas R$ 1.699 e pessoas pardas R$ 1.726. Além da diferença da renda entre cor ou raça, pessoas brancas ganham acima da média nacional, e pessoas pretas e pardas ganham abaixo da renda média nacional.

Essa desigualdade é estrutural e não apenas conjuntural. É isso que iremos ver nos indicadores sociais de 2019 do IBGE, com dados de 2018.

O primeiro indicador preocupante é que a taxa de desocupação entre os jovens (14 a 29 anos) é sempre mais alta e com tendência de crescimento nos últimos anos. Como podemos ver no gráfico, a taxa de desemprego entre os jovens gira em torno de 23%.

A segunda característica estrutural do mercado de trabalho que pode ser agravada com a crise atual a taxa de desocupação por sexo. Como podemos observar no gráfico, a taxa de desemprego para as mulheres é mais elevada no total, e em algumas intervalos de idade. Entre 14 e 29, mulheres tem um percentual de desemprego próximo a 25%, enquanto homens tem uma taxa de 19%. Entre 30 e 49 anos, mulheres apresentam uma taxa de desemprego de 10% e homens de 7%.

A situação da desigualdade no mercado de trabalho se mostra mais desigual ainda quando consideramos os indicadores por cor ou raça. Em todos indicadores, pessoas que se declaram preta ou parta tem taxa de desocupação mais elevada do que pessoas que se declaram brancas, como mostra o gráfico. Tanto com pessoas sem instrução, como pessoas com ensino fundamental, ensino superior completo ou incompleto, a taxa de desocupação para preta ou parda é maior. Por exemplo, preta ou parda, com ensino fundamental completo ou ensino médio incompleto, tem taxa de desocupação de 18%, enquanto pessoa branca o percentual é de 13,5%. Para pessoas com ensino superior completo, pretas e pardos tem taxa de desemprego de 7% e brancos de 5%.

A maior taxa de desocupação para mulheres e pessoas pretos ou pardos, quando comparada com homens e pessoas brancas, está associado a rendimento médio real do trabalho menor para pessoas ocupadas. No gráfico, homens (R$ 2.382) e pessoas brancas (R$ 2.796) apresentam rendimento médio real do trabalho maior do que a média nacional (R$ 2.263). Enquanto isso, mulheres (R$ 1.874) e pessoas pretas ou pardas (R$ 1.608) apresentam rendimento médio real do trabalho menor do que a média nacional, assim como apresentam rendimento menor quando comparado com homens e pessoas brancas. Mesmo quando consideramos o nível de instrução, pessoas brancas apresentam rendimento-hora médio real maior do pessoas preta ou parda em todos os níveis de formação, mas para quem tem nível superior o diferencial de renda entre brancos (R$32,8) e pretos ou pardo (R$ 22,7) se torna mais substancial ainda. A média total também impressiona, com o rendimento-hora médio real do trabalho de pessoas brancas de R$ 17,00, enquanto de pessoas pretas ou pardas de R$ 10,1.

Mesmo quando levamos em conta a população ocupada e subocupada por insuficiência de horas, a população preta ou parda tem uma situação pior do que as pessoas brancas. Por exemplo, o percentual de participação da população subocupada das mulheres era de 54,6% e dos homens de 45,4%. Quando analisamos a cor ou raça, a discrepância é gritante, pois a participação de pessoas preta ou parda é de 66% e de pessoas brancas de 32,8%.  Além da deterioração dos indicadores do mercado de trabalho, deixando em evidência a condição de vulnerabilidade do trabalhador, quando analisamos o sexo e a cor ou raça, a condição das mulheres e das pessoas preta ou parda é muito mais degradante. Isso é estrutural e, portanto, pensar em um projeto de nação deve, necessariamente, pensar em estratégias de romper com o racismo e o machismo estruturais do país.

materia sobre o tema:

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/08/06/entregadores-de-app-tem-jornada-de-645h-semanais-na-pandemia-diz-pesquisa.amp.htm

1 thought on “Um raio-X do mercado de trabalho no Brasil”

  1. Paulo, eu acho que a questão da taxa de desemprego entre pardos, negros e brancos é muito relativa, até porque a maioria dos trabalhos de alta qualificação estão concentrados demasiadamente no sul e no sudeste, regiões de maioria branca ( Santa Catarina possuo a menor taxa de desemprego do Brasil, e, além disso, a maioria de quem vive lá é branca). A ideia minha seria desenvolver a região norte e nordeste, onde há mais desemprego e mais pessoas pardas e negras desempregadas ou em empregos de baixa qualificação.

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