*escrito com Uallace Moreira
Diante do crescimento da chinesa Huawei, a política de boicote dos EUA se intensificou nos últimos meses, principalmente levando muitos países a adotarem também medidas restritivas contra a Huaewi, como também os EUA fecharam o cerco em relação a fornecedores. O melhor exemplo dessa política de boicote dos EUA foi com a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que é a empresa de fabricação de chips mais sofisticada do mundo, fornecedora da Apple, Qualcomm, TexasInstruments. A TSMC ocupa a terceira posição na receita global de semicondutores. Em 2019, as sete empresas americanas representaram quase 55% da receita da TSMC. Com exceção da Texas Instruments, essas empresas norte-americanas são empresas de design consideradas “fabless”, o que significa que elas não possuem instalações próprias de produção comercial (fabricação). Além do mais, o negócio da Samsung, a 2º maior empresa do setor, tem menos de 40% do tamanho dos TSMC. A terceira do ranking, GlobalFoundries (EUA), é inferior a 20% da TSMC. A empresa UMC, 4º no ranking, também é taiwanês. A 5º no ranking é a empresa SMIC (China). Atualmente, os EUA respondem por apenas 13% da capacidade global e menos de 10% do investimento em nova capacidade. Por outro lado, a Associação da Indústria de Semicondutores calcula que as empresas americanas representaram 47% das vendas globais de semicondutores em 2019. Ou seja, no conflito geopolítico e produtivo entre EUA e China, que envolve o domínio tecnológico, Taiwan com a TSMC ganhou protagonismo nessa disputa, deixando em evidência que os países que estão na fronteira tecnológica mundial, são justamente aqueles que tem política industrial. Esse cenário deixa em evidência que a decisão da TSMC (empresa Taiwanesa) de boicotar a Huawei, parando de receber novos pedidos da Huawei Technologies Co. Ltd., como também com previsão de deixar de enviar chips de computador a partir de setembro deste ano, seguindo as orientações das sanções dos EUA, é um indicativo ruim para a China. A TSMC será atingida a curto prazo por essas sanções impostas à Huawei, já que a Huawei, maior fabricante de equipamentos de telecomunicações da China, correspondeu por 14% das vendas da TSMC em 2019 com pedidos de chips para telefones celulares, estações base, servidores e outros equipamentos. Entretanto, o principal cliente da TSMC é a Apple, o que explica, em parte, a TSMC de Taiwan se submeter às ordens dos EUA.
Se os EUA adotaram a estratégia de boicote, a China e a Huawei intensificaram também a busca por parcerias no setor de telecomunicações. A parceria entre Samsung e Huawei, é um grande trunfo entre as empresas coreana e chinesa, contrariando os interesses dos EUA. A proibição dos EUA de vender chips de empresas estrangeiras para a Huawei Technologies se houver equipamento ou software americano pode prejudicar os EUA no mercado global de equipamentos de semicondutores. Por exemplo: a Samsung, maior fabricante mundial de memória e chips lógicos depois da Taiwan Semiconductor Manufacturing Corporation (TSMC), já montou linha de produção para chips de 7 nanômetros de ponta usando apenas equipamentos de fabricação de chips japoneses e europeus. A Samsung e a Huawei estão construindo um acordo sob o qual a gigante sul-coreana fabricaria chips avançados para os equipamentos 5G da Huawei, e a Huawei cederia uma parcela de sua participação no mercado de smartphones à Samsung. Além da parceria entre Samsung, a Huawei também estabeleceu parceria com a Semiconductor Manufacturing International Corp. (SMIC) se tornou um aliado importante para a China na fabricação de chips. A SMIC de Xangai foi fundada há duas décadas por Richard Chang, um engenheiro de Taiwan que trabalhava há 20 anos na Texas Instruments, gigante dos EUA. Com o acirramento dos conflitos entre a SMIC e a TSMC, em 2015, o Fundo de Investimento da Indústria de Circuitos Integrados da China, criado um ano antes para ajudar a impulsionar o setor de chips da China, se tornou o segundo maior acionista da SMIC. Esse apoio e subsequente de fundos apoiados pelo Estado deram recursos ao SMIC para o desenvolvimento de tecnologias de fabricação mais avançadas. O acentuamento dos conflitos entre EUA e China, envolvendo outros países produtores de produtos que estão na fronteira tecnológica, como semi-condutores, chips, entre outros relacionados à 5G e até mesmo 6G, deixa explícito que a disputa na economia mundial tem como um das principais variáveis o domínio tecnológico, não apenas em ser consumidor, mas principalmente em ser produtor, ter cadeias produtivas nacionais fortalecidas, assim como parceiros comerciais relevantes e players nos setores industriais mais intensivos em tecnologia. Briga de cachorro grande!
O crescimento da SMIC é essencial, pois ela se tornou uma empresa estratégica para a China e Huawei. A SMIC apresentou crescimento de seu lucro em 19% com relação ao ano anterior, para US$ 938,5 milhões. Isso também representou um aumento de 3,7% no trimestre. O lucro bruto no período de abril a junho aumentou 64,5% no comparativo anual. O crescimento do lucro da SMIC está associado a uma política de fortalecimento da cadeia produtiva nacional de chips, com forte política de subsídio para as empresas do setor. O China’s State Council, divulgou novas regras para reforçar as indústrias de circuitos integrados e software do país, em apoio ao esforço de expandir e aprimorar a capacidade doméstica de fabricação de chips. As novas regras definem incentivos fiscais, incluindo até 10 anos de isenções fiscais para fabricantes de circuitos integrados qualificados. O conselho prometeu simplificar o procedimento de revisão das listagens domésticas de empresas de circuitos integrados e software.
Fonte:
https://www.asiatimesfinancial.com/chinese-chipmaker-smic-posts-record-q2-revenue
https://www.asiatimesfinancial.com/time-for-the-west-to-embrace-chinese-industrial-policy
https://asiatimes.com/2020/07/world-splitting-into-pro-and-anti-huawei-camps/
https://www.asiatimesfinancial.com/time-for-the-west-to-embrace-chinese-industrial-policy
https://asiatimes.com/2020/06/how-huawei-can-work-around-us-chip-ban/
https://www.ft.com/content/327414d2-fe13-438e-9767-333cdb94c7e1