A recente comunicação de política monetária trouxe elementos claros em relação aos gatilhos que o BCB observa para seus próximos passos na condução politica monetária: a-) A ancoragem das expectativas de médio e longo prazo; b-) A queda da inflação corrente, em especial, os preços ligados a choques não relacionados a política monetária (alimentos) e c-) A política fiscal. A preocupação com a trajetória das variáveis fiscais está relacionada a ideia de dominância fiscal, estágio onde altas da taxa de juros de curto prazo pelo BC passam a ser contraproducentes em relação ao controle da inflação na medida em que sobrecarregam a dinâmica da divida publica, pressionam o risco pais (medido pelo CDS por exemplo) pressionando a inflação corrente pela via da desvalorização cambial como resposta ao aumento de risco percebido pelo mercado.
Neste contexto, não é novidade que os efeitos da política monetária se materializam com defasagens na economia. Este “lag” depende de uma série de elementos, no atual contexto da economia brasileira, destaca-se a grande margem de ociosidade no mercado de trabalho com taxa de desemprego atualmente em 12% o índice de utilização da capacidade instalada da indústria em mínimas históricas, entre outros. Estes pontos já seriam suficientes para argumentar que a estratégia do BC em condicionar sua política monetária à agenda fiscal pode ser arriscada. Se adicionarmos a isso o espantoso diferencial de juros da economia brasileira em relação aos pares emergentes poderemos observar novas rodadas de apreciação da moeda brasileira.
Por fim vale lembrar que o notável ajuste externo da economia brasileira com redução do déficit em conta corrente em quase 100 bilhões de dólares acumulado em 12 meses, manutenção das reservas na casa dos U$375 bilhões e fluxo de investimento direto estrangeiro no patamar de U$80 bilhões, abrem uma janela de tranquilidade importante no front cambial. O alivio do FED em relação aos próximos passos da politica monetária americana também. O objetivo do FED parece ser uma alta “lenta, gradual e segura” da taxa de juros, se é que isso é possível. Será uma tentativa de temperar os ânimos financeiros nos ativos de risco, sem estragar a modesta recuperação da economia americana. Ou seja, a trajetória provável do dólar no Brasil e’ bem favorável. Se o BC esperar demais para reduzir a taxa de SELIC há riscos de queda do IPCA para baixo do centro da meta e reversão do ajuste externo com nova rodada de apreciação cambial. Mesmo que as medidas fiscais demorem pra passar no congresso, os juros nominais e reais devem cair no Brasil.